A Arábia Saudita foi responsável por promover movimentações significativas no mercado de transferências do futebol mundial nas últimas temporadas. A chegada de grandes nomes do esporte à Saudi Pro League, porém, tirou espaço dos jogadores nascidos no país.
O movimento de ida de craques do futebol europeu para o país do Oriente Médio começou com a transferência de Cristiano Ronaldo para o Al-Nassr, no final de 2022.
Desde então, diversos atletas de alto nível seguiram o caminho do craque português, como Neymar, Roberto Firmino, Karim Benzema, Sadio Mané, N’Golo Kanté, Kalidou Koulibaly, Rúben Neves, Sergej Milinković-Savić, Édouard Mendy e Riyad Mahrez, entre outros.
Assim, o Campeonato Saudita ficou na segunda colocação do ranking de gastos com transferências em 2023, atrás apenas da Premier League.
O aumento do nível da competição fez com que os jogadores qualificados nascidos no país perdessem minutos em campo na Liga Saudita, o principal espaço para evoluírem. O crescimento da seleção nacional do país, neste cenário, fica ameaçado.
Seleção
Os países vistos como referências no futebol são prestigiados não só por suas ligas, mas também por possuírem seleções nacionais que brigam por títulos, como Inglaterra, Espanha, França e Alemanha.
Em alguns casos, países são exaltados no futebol apenas por se destacarem entre as seleções nacionais, caso da Argentina, atual campeã mundial, mas que não possui uma liga de grande relevância em nível global.
Os planos da Arábia Saudita de se tornar uma referência no esporte, portanto, passam também por evoluir a equipe nacional. Atualmente, a seleção do país ocupa a 59ª colocação no ranking da Fifa e tem como sua melhor marca em Copas do Mundo uma eliminação nas oitavas de final, alcançada há 30 anos, no Mundial dos Estados Unidos, em 1994.
Mudanças
Diante do cenário criado pelo próprio país, a liga intensificou mecanismos de proteção aos jogadores nascidos dentro de suas fronteiras. Para a temporada 2024/2025, iniciada em agosto, a Saudi Pro League passou por algumas mudanças relacionadas à presença de atletas estrangeiros.
Os times tiveram uma redução no número máximo de jogadores de 30 para 25, com o objetivo de diminuir a quantidade de atletas inativos nos elencos da liga.
Além disso, passaram a poder registrar no máximo 10 atletas que não nasceram na Arábia Saudita para a temporada, sendo 8 por jogo. Assim, no mínimo 6 jogadores sauditas entram em campo a cada partida da Saudi Pro League.
Entre os não sauditas, dois deverão ser nascidos após 2003, com o objetivo de aumentar o investimento em jovens, para que os talentos locais evoluam junto. Por fim, as equipes que possuem apenas 20 jogadores devem ter pelo menos 11 sauditas.
As novas regras resultaram em um número menor de contratações de estrangeiros. Nenhum atleta de grande impacto chegou à liga para a temporada 2024/2025, diferentemente do que aconteceu nos anos anteriores.
Além de proteger os jogadores locais, as mudanças potencializaram as oportunidades dos jogadores sauditas de estarem em campo e, consequentemente, a possibilidade de evolução destes atletas.
Dilema
A proteção aos jogadores sauditas caminha na direção contrária à estratégia adotada pela Saudi Pro League no início de sua expansão. Com as novas regras, os clubes não poderão contar com novos grandes nomes, que melhorariam o nível de jogo e potencializariam ainda mais a audiência da competição.
Em alguns casos, houve equipes que tiveram de se desfazer de jogadores para se enquadrarem às novas definições. A volta de Neymar ao Al-Hilal após uma grave lesão no joelho, por exemplo, fez com que o clube ultrapassasse o limite de estrangeiros. A solução encontrada foi registrar o atleta no lugar de Renan Lodi, outro brasileiro.
Com a ambição de se tornar referência no futebol mundial, fica cada vez mais claro que a Arábia Saudita terá que ponderar a evolução da Saudi Pro League e de seus jovens talentos nos próximos anos.