Campeonato Argentino exclui rebaixamento em 2024 e retomará Apertura e Clausura

Se o campeonato deste ano terminasse hoje, Boca Juniors e River Plate estariam fora da Copa Libertadores 2025 - Reprodução / Instagram (@bocajrs)

Em meio a uma verdadeira guerra contra o governo do presidente Javier Milei, que defende a implantação do modelo de Sociedades Anônimas Desportivas (SADs, que funcionariam em um sistema similar ao das Sociedades Anônimas do Futebol (SAFs) brasileiras) no país, os clubes argentinos resolveram alterar as estruturas da principal competição de futebol do país.

A edição deste ano da Liga Profissional de Futebol (LPF), a primeira divisão do Campeonato Argentino, não terá rebaixamento. Vale explicar, no entanto, que o sistema que estava em vigor até então não previa o descenso do último e do penúltimo colocados, no caso Barracas Central e Defensa y Justicia (ainda faltam nove rodadas para o término do torneio).

Isso porque a competição adotava um método que leva em conta as pontuações dos clubes nos últimos três anos. Ou seja, os times que tivessem as piores médias é que seriam rebaixados. A partir de agora, porém, tudo mudou. Todos os atuais participantes da LPF 2024 estarão garantidos no campeonato do ano que vem. Além disso, o campeão e o vice da segunda divisão também disputarão a elite do Campeonato Argentino, que passará a contar com 30 participantes (atualmente são 28).

O atual líder da LPF é o Vélez Sarsfield, que soma 37 pontos em 18 rodadas. Um dado curioso é que, se fosse mantida a classificação atual, os gigantes Boca Juniors (16º) e River Plate (8º) sequer conseguiriam vaga na Copa Libertadores de 2025 (lembrando que a equipe branca e vermelha está na semifinal do torneio continental e enfrentará o Atlético-MG).

Apertura e Clausura retornam

A principal mudança nas regras do Campeonato Argentino não tem a ver com a questão do rebaixamento, mas sim com a fórmula de disputa, com a retomada do sistema Apertura e Clausura, que vigorou no país de 1991 a 2012.

A decisão tomada pela Associação Argentina de Futebol (AFA) buscou agradar a torcida, uma vez que o país sul-americano tem enraizada em sua cultura a ideia de dois campeões nacionais no mesmo ano.

Em seus primórdios, a partir de 1891, a Argentina conviveu durante um bom tempo com um campeonato anual único, que era estruturado em sistema de pontos corridos e dois turnos. Entre 1937 e 1966, apenas Boca Juniors, River Plate, Racing, Independiente e San Lorenzo, os cinco maiores clubes do país, monopolizaram a competição, sem que nenhum outro time conseguisse levantar a taça.

A partir de 1967, foi introduzida a primeira experiência com dois campeonatos anuais coexistindo harmonicamente: o Metropolitano, voltado exclusivamente aos participantes do antigo torneio, e o Nacional, aberto às equipes que disputavam competições regionais. Com esse novo modelo, o futebol argentino passou a contar com novos protagonistas, como Estudiantes, Rosario Central, Vélez Sarsfield e Quilmes, entre outros.

Embora tenham passado por mudanças de formato ao longo dos anos, basicamente cada campeonato ocupava um semestre do ano, com seus respectivos campeões.

A partir de 1985, porém, por sugestão de Carlos Bilardo, técnico que comandaria a Argentina na conquista da Copa do Mundo de 1986, no México, a AFA resolveu adotar o modelo de campeonato único, com a temporada inspirada no calendário europeu (em que as competições começam e são concluídas na metade do ano).

A experiência teve vida relativamente curta. Em 1991, teve início o sistema Apertura e Clausura, que eram torneios de turno único, realizados, respectivamente, no primeiro e no segundo semestre. Naquele ano, os vencedores de cada competição se enfrentaram em uma partida decisiva, que definiu o campeão do ano.

O título ficou com o Newell’s Old Boys, que derrotou o Boca Juniors na decisão. Esse fato gerou polêmica, uma vez que a equipe xeneize havia vencido de forma invicta o Clausura, mas não foi considerado campeão oficial, situação que prolongou um jejum de títulos que já durava desde 1981.

No ano seguinte, esse jogo decisivo ainda voltou a ocorrer (seria abandonado a partir de 1993), mas os ganhadores do Apertura e do Clausura foram considerados oficialmente campeões nacionais.

Entre 2012 e 2014, Apertura e Clausura foram substituídos pelo Torneio Inicial e o Torneio Final, que também eram realizados em cada semestre, mas com apenas um campeão anual.

De 2015 em diante, a Argentina voltou a ter um torneio único e apenas um campeão por temporada. Foi a tentativa de criação da Superliga, com 30 clubes, em um movimento que contou com a participação do governo da então presidente Cristina Kirchner.

A Superliga permaneceu até 2020, ano em que a AFA retomou a organização do Campeonato Argentino.

Tapia reeleito

As mudanças no regulamento do Campeonato Argentino incluem o fim do sistema de pontos corridos e a adoção do modelo em que os 30 clubes serão divididos em dois grupos de 15, com os melhores avançando a um mata-mata.

As alterações foram anunciadas durante a Assembleia da AFA, que sacramentou a recondução de Claudio Tapia a mais um mandato à frente da entidade. Ele encabeçava a chapa única na disputa pela presidência da associação, devendo permanecer no cargo até 2029.

A reeleição do dirigente representa mais um capítulo da guerra entre o futebol argentino e o Governo Milei, que tentou intervir judicialmente na AFA, sob o argumento de que a reeleição de Tapia seria irregular.

A causa dessa disputa reside na resistência da AFA e dos clubes em aderirem ao modelo de SADs, defendido por Milei ainda durante a campanha eleitoral.

A recondução de Tapia representa um claro recado de que os times argentinos estão ao lado do dirigente e apoiam a proibição da entidade ao sistema das SADs. Vale lembrar que o regulamento da Federação Internacional de Futebol (Fifa) veta intervenção estatal nas federações e confederações locais.

No começo deste ano, a entidade que comanda o futebol mundial ameaçou excluir a seleção brasileira dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 por conta da decisão da Justiça do Rio de Janeiro que afastou Ednaldo Rodrigues da presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Se a situação tivesse persistido, os clubes do país ficariam de fora da Copa Libertadores e da Copa Sul-Americana, além de outras competições internacionais oficiais.

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