Com aval de Fifa e Conmebol, Ednaldo Rodrigues ganha ainda mais força na CBF

Representantes da Conmebol e da Fifa, em visita à CBF - Fabio Souza / CBF

Ao que tudo indica, chegou ao fim (pelo menos por enquanto) a disputa encarniçada pelo comando do futebol brasileiro. Quem levou a melhor na queda de braço foi Ednaldo Rodrigues. Respaldado numa liminar concedida pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) conseguiu angariar um importante apoio político nesta segunda-feira (8).

Em visita à sede da entidade, no Rio de Janeiro (RJ), representantes da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) e da Federação Internacional de Futebol (Fifa) bancaram a permanência de Rodrigues no cargo.

A comitiva internacional contou com as presenças do diretor de assuntos jurídicos da Fifa, Emílio Garcia, e do gerente jurídico da Conmebol, Rodrigo Aguirre. Inicialmente, havia a expectativa de que a visita da dupla pudesse se prolongar até quarta-feira (10). Porém, no início da tarde de segunda os representantes já tinham seu parecer definitivo em favor de Rodrigues.

Tanto que a própria CBF publicou em seu site oficial que a Fifa havia declarado “normalidade restaurada” na instituição brasileira. Conforme a Máquina do Esporte havia adiantado em matéria publicada na última sexta-feira (5), a liminar concedida pelo STF poderia até parecer frágil, mas foi poderosa o suficiente para garantir não apenas o retorno de Rodrigues, como também ampliar os poderes do cartola.

Ameaça de sanções

A postura adotada pelos dirigentes da Fifa e da Conmebol foi a de quem debelava uma rebelião. A declaração de Garcia, publicada no site oficial da CBF, trazia de maneira clara a ameaça de sanções ao futebol brasileiro, caso a destituição de Rodrigues seguisse adiante.

“Havia um risco real de que o Conselho da Fifa excluísse as seleções brasileiras, em todas as categorias, e os clubes brasileiros de disputar competições internacionais”, afirmou o diretor da entidade máxima do futebol mundial.

Roteiro do retorno de Rodrigues já estava escrito

Ocorrida no início de dezembro do ano passado, a queda de Rodrigues do cargo foi seguida por uma forte movimentação de grupos que demonstravam estar descontentes com sua gestão.

Somava-se a isso o desgaste sofrido pelo dirigente junto à imprensa e aos torcedores, devido ao péssimo desempenho da seleção brasileira em campo, sob o comando do técnico interino Fernando Diniz, que se dividia entre o time canarinho e o Fluminense.

O plano ideal de Rodrigues era de que Diniz permanecesse no cargo até que Carlo Ancelotti assumisse, após encerrar seu contrato com o Real Madrid. No apagar das luzes de 2023, no entanto, o italiano resolveu renovar com o clube espanhol, criando uma situação vexatória para o dirigente afastado.

Para complicar a situação, na última semana do ano o presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), Reinaldo Carneiro Bastos, resolveu lançar publicamente sua candidatura à presidência da CBF, com o apoio de 30 clubes e oito federações, situação que, em tese, garantiria a ele votos suficientes para se eleger, caso uma eleição fosse realizada.

A reação de Rodrigues veio rápido e foi incisiva. Ela começou a se prenunciar na quarta-feira passada (3), com a divulgação, por alguns órgãos de imprensa do Brasil, de que a seleção de futebol do país poderia ser excluída dos Jogos Olímpicos de Paris, pelo fato de que a Conmebol não reconhecia o interventor José Perdiz como um representante legítimo da CBF. Estava construída a narrativa que respaldaria o retorno do presidente afastado.

Relações políticas fortes

Utilizando essa ameaça como fundamento, o PCdoB, partido que tem ligações com Alcino Reis Rocha (secretário-geral que foi destituído da CBF, juntamente de Rodrigues), resolveu ingressar com novo pedido de liminar para derrubar a intervenção imposta pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ).

Em dezembro, o ministro André Mendonça (indicado por Jair Bolsonaro), do STF, já havia negado liminar para garantir o retorno de Rodrigues ao cargo. Desta vez, porém, coube a Gilmar Mendes analisar o pedido do PCdoB, que alegava a existência de um risco de dano irreparável – no caso, a exclusão da seleção brasileira de futebol dos Jogos de Paris.

Tão logo reassumiu a presidência da CBF, na quinta (4), Rodrigues optou por deixar o tema política de lado e focar em um assunto de grande comoção popular: a escolha do novo técnico da seleção masculina principal. O dirigente imediatamente fez ventilar seu interesse por Dorival Júnior, do São Paulo, para o cargo de treinador, enquanto o ex-jogador Filipe Luís ficaria com a coordenação.

Na sexta-feira, em nova demonstração de força, o dirigente demitiu Fernando Diniz das funções de interino. As movimentações poderiam parecer restritas ao jogo em si, mas carregavam um recado político claro: Rodrigues havia voltado para ficar.

Mesmo tendo recebido uma proposta de reajuste salarial e de ampliação do contrato até o fim de 2026, Dorival optou por fechar com a CBF. Tanto que a saída do técnico para assumir a seleção foi anunciada em plena tarde de domingo, pelo próprio São Paulo. Estava evidente que a volta de Rodrigues não seria efêmera e que ele teria respaldo para permanecer na presidência da CBF.

Adversários saem enfraquecidos

O retorno de Rodrigues ao cargo, da forma como ocorreu, demonstrou que o dirigente possui boas relações nos círculos do poder em Brasília. Por mais que os ministros do STF afirmem que suas decisões são estritamente técnicas (e, de fato, elas precisam ser embasadas na Constituição Federal), elas sempre possuem um forte componente político, que não pode ser ignorado.

Ednaldo Rodrigues foi capaz de mobilizar em sua defesa uma tropa de choque suprapartidária, composta por pessoas ligadas a PT, PSD e PCdoB, partidos da base aliada do Governo Federal.

Ele também demonstrou que tem forte respaldo junto à Fifa e à Conmebol, tanto que as entidades jamais reconheceram a intervenção do TJ-RJ na CBF e tiveram papel decisivo para o retorno do cartola ao cargo.

O desfecho desse episódio também marca o enfraquecimento político dos adversários de Rodrigues, em especial de Reinaldo Carneiro Bastos, que realizou manobras públicas, na tentativa de suceder o atual mandatário da CBF.

As chances de o presidente da FPF manter coeso o grupo que reuniu em torno de sua malograda candidatura (que não ocorrerá tão cedo, tendo em vista que o mandato de Rodrigues ainda tem dois anos de duração) são pequenas.

É fato que ainda existe uma possibilidade remota de Rodrigues sofrer um revés, quando o STF for analisar, de maneira colegiada, o mérito da ação que resultou na intervenção na CBF.

Porém, a tendência é de que as ameaças feitas por Fifa e Conmebol acabem pesando na definição dos votos dos ministros que analisarão o caso, no começo do próximo mês. O prejuízo de seguir o entendimento do tribunal fluminense aparenta ser muito maior do que manter as coisas como estão.

E as possíveis sanções têm o poder de desmobilizar os próprios clubes, antes descontentes com Rodrigues. Vale lembrar que oito times brasileiros disputarão a Copa Libertadores, enquanto outros seis estão com presença confirmada na Copa Sul-Americana deste ano. As duas competições internacionais possuem papel central no planejamento feito por essas equipes, que poderiam acabar sendo excluídas dos torneios, caso persistisse a intervenção judicial na CBF.

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