A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) anunciou que enviou um ofício ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao Ministério da Justiça, solicitando a entrada da Polícia Federal (PF) nas investigações a respeito do envolvimento de jogadores de futebol em um esquema de manipulações de jogos durante a disputa das Séries A e B do Brasileirão de 2022, além de competições estaduais em 2023.
A CBF espera que as investigações sejam centralizadas nas mãos da Polícia Federal. Nesta quarta-feira (10), o Ministério Público de Goiás (MPGO) ofereceu uma denúncia por organização criminosa e fraude ao Estatuto do Torcedor por possível manipulação de jogos contra 16 pessoas, entre atletas, aliciadores e apostadores, após investigações feitas no âmbito da Operação Penalidade Máxima. Três pessoas já foram presas na Fase II da operação, desencadeada no mês passado. A expectativa é de que possa haver mais prisões nos próximos dias.
“Venho trabalhando em conjunto com a Fifa, demais entidades internacionais, além de clubes e federações brasileiras, com o intuito de combater todo e qualquer tipo de crime, fraude ou ilícito dentro do futebol”, afirmou Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF.
“Defendo a suspensão preventiva baseada em suspeitas concretas e até o banimento do esporte em casos comprovados. Quem comete crimes não deve fazer parte do futebol brasileiro e mundial”, acrescentou o dirigente.
Sem paralisação
A entidade que comanda o futebol brasileiro informou que não cogita a paralisação dos campeonatos em andamento nem a anulação de jogos da disputa do ano passado.
Em 2005, na outra vez que o futebol brasileiro esteve envolvido com manipulação de jogos para benefício de apostadores, a CBF chegou a anular 11 partidas que haviam sido apitadas pelo árbitro Edilson Pereira de Carvalho, envolvido no escândalo.
Dessa vez, porém, os incidentes nos jogos têm um grau maior de sofisticação, como o arranjo para que algum atleta tomasse cartões amarelos ou vermelhos, com menor interferência no resultado das partidas, como ocorreu em 2005. Apesar disso, a confederação afirmou que a punição também deverá vir na esfera esportiva.
“A CBF ressalta que, tão logo estejam comprovados os fatos, espera que as sanções cabíveis por parte do STJD [Superior Tribunal de Justiça Desportiva] sejam tomadas de forma exemplar. Mais uma vez, a entidade reforça que o campeonato não será suspenso, mas defende que a punição de atletas e demais participantes do esquema de fraudes aconteça de forma veemente”, informou a confederação, que se diz vítima do esquema, assim como as empresas de apostas.
Casas de Apostas
A Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL), uma das entidades que congregam o setor, se manifestou sobre o escândalo e cobrou do governo uma ação para que se estabeleça logo a regulamentação do setor de apostas no Brasil.
“A ANJL apoia toda e qualquer investigação das autoridades e das entidades federativas do esporte porque as casas de apostas são as grandes vítimas de qualquer manipulação de resultado. Nós acreditamos que a regulamentação vai ajudar muito na prevenção de crimes como esse”, enfatizou Wesley Cardia, presidente da ANJL.
Outra entidade do segmento, o Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR) foi na mesma linha. A entidade afirmou que “vê a regulamentação do setor de apostas esportivas no Brasil como essencial para a segurança dos apostadores, esportes e operadores, de forma que possam contribuir para o crescimento do país”.
“Os membros do IBJR têm experiência com a operação em países em que as casas de apostas já colaboram ativamente para a manutenção da integridade do esporte”, acrescentou o IBJR.
Já a Associação Brasileira de Defesa da Integridade do Esporte (Abradie) foi a única entre as três entidades que não se pronunciou. A entidade deve se manifestar nesta quinta-feira (11), quando acontece a 2ª Cúpula da Integridade Esportiva no Brasil. A Abradie é uma das organizadoras do evento.
Ministério do Esporte
Procurado para comentar a Operação Penalidade Máxima, o Ministério do Esporte afirmou que participou dos debates em torno do texto da medida provisória (MP) que regulamentará as apostas esportivas no país e defendeu a criação de uma agência com foco no trabalho de prevenção. A MP está prestes a ser editada pelo governo Lula.
“O Ministério do Esporte colaborou nas discussões sobre o projeto de MP, em conjunto com o Ministério da Fazenda, dando enfoque na integridade do esporte, inclusive sugerindo a criação de uma agência nacional de integridade, que preze pelos valores do esporte, pelo jogo limpo e imprevisibilidade nos resultados”, afirmou Juliana Agatte, secretária-executiva do Ministério do Esporte.
“O próximo passo será trabalhar em conjunto para a regulamentação da prevenção quanto à manipulação dos resultados. Essa é uma agenda prioritária e envolve, além do governo, todo o sistema esportivo”, acrescentou.