Há cerca de 20 ou 30 anos, muitas situações eram vistas como inimagináveis no futebol. Uma delas seria encontrar uma logo de empresa (que não fosse a do fornecedor de material esportivo) estampada na camisa do Barcelona. Até o início deste milênio, a equipe catalã se dava ao luxo de ostentar um uniforme limpo de patrocínios, ao mesmo tempo em que apresentava finanças sólidas e conseguia montar times altamente competitivos.
Mas os tempos são outros. Afundado em dívidas, o Barcelona hoje aceita exibir marcas em todos os locais possíveis. Nesta semana, o clube anunciou acordo com a marca de desinfetantes Medusa, que ocupará espaço na bermuda de jogo do time.
O clube receberá € 5 milhões (R$ 30,74 milhões) por temporada com esse contrato, que será válido por três anos. Com sede nos Emirados Árabes Unidos, a empresa terá sua marca estampada na parte frontal do calção do Barcelona, acima da logo da fornecedora de material esportivo Nike.
Clube vive crise financeira
Negociar esses novos espaços com patrocinadores é um movimento fundamental para o clube catalão, que atravessa grave crise financeira. Em maio deste ano, a Máquina do Esporte noticiou que a equipe estava em busca de um empréstimo de € 100 milhões (cerca de R$ 554 milhões, pela cotação atual) para não fechar o ano com prejuízo.
O orçamento aprovado pelo Barcelona, no ano passado, chegava a € 859 milhões (R$ 4,76 bilhões), prevendo lucro líquido de € 11 milhões (quase R$ 61 milhões).
Porém, os resultados financeiros da equipe catalã ficaram abaixo do projetado, situação que foi agravada com a venda de parte da Barça Media (antigo Barça Studios), negócio no qual o clube esperava faturar € 200 milhões (mais de R$ 1,1 bilhão), mas pelo qual só recebeu € 40 milhões (R$ 222 milhões) até agora.
Inicialmente, o time vendeu 49% da Barça Vision, empresa responsável pela criação, produção e comercialização de toda a oferta audiovisual do clube, à Orpheus Media e à Socios.com, por € 200 milhões.
Em meados do ano passado, o fundo de investimento alemão Libero Football Finance AG e a Nipa compraram de volta 29,5% desses 49%, para desbloquear a operação e reativar essa “alavanca”, em uma oferta pública de ações que o clube planejava promover na Nasdaq.
Porém, a Libero não quitou, à época, os € 40 milhões que deveria pagar na aquisição. Atualmente, ela está sendo processada pelo Barcelona, que alega quebra no contrato de venda acordado.
Patrocinador busca projeção global
A expetativa é de que estreia da Medusa no uniforme do Barcelona possa ocorrer durante a disputa do Troféu Joan Gamper, tradicional torneio amistoso promovido pelo clube e que, neste ano, ocorrerá em 12 de agosto, tendo o Monaco como adversário. Ou, no mais tardar, durante o jogo de estreia do time na temporada 2024/2025 da LaLiga, diante do Valencia, fora de casa, em 17 de agosto.
A parceria com o Barcelona é vista como parte da estratégia da marca para avançar globalmente, seguindo o exemplo de antigos patrocinadores do clube, como Beko ou Rakuten, antes pouco conhecidos do grande público.
Barcelona já viveu sem patrocínios de uniforme
Durante décadas, o Barcelona não estampou qualquer marca de patrocinador máster em seu uniforme. As únicas logomarcas utilizadas, além do escudo do clube, eram dos fornecedores de materiais esportivos, desde a Kappa, nos anos 1980.
A partir de 2006, surgiu a primeira marca estampada no espaço nobre do uniforme do Barcelona, mas que não era necessariamente de um patrocinador, mas sim do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). O braço da Organização das Nações Unidas (ONU) permaneceu até 2010, quando o clube passou a divulgar em sua camisa outra instituição que se declara como social, a Qatar Foundation, criada e mantida pelo xeque Hamad bin Khalifa Al Thani, do Catar.
A diferença entre um acordo e outro é que, na parceria com o Unicef, o Barcelona é quem dava dinheiro à instituição, cerca de US$ 1,5 milhão ao ano. Já com a Qatar Foundation, o contrato garantiu ao clube uma receita em torno de US$ 170 milhões ao ano. Na temporada 2012/2013, a equipe enfim fechou um patrocínio máster com a Qatar Airways, que também pertence à família real do Catar, a mesma que, mais tarde, direcionaria seus investimentos bilionários para o PSG.
O atual patrocinador máster do Barcelona é o Spotfy, que também detém os naming rights do Estádio Camp Nou.