ESPECIAL: Por que a Premier League domina as janelas de transferências do futebol europeu?

Os clubes da Premier League investiram pesado em contratações neste início de 2023, algo difícil de acontecer tendo em vista que os times estão no meio da temporada na Europa. No total, o aporte somado das 20 equipes da liga inglesa na aquisição de novos jogadores nesta janela de inverno europeu girou em torno de € 824 milhões.

Em comparação com as outras grandes ligas da Europa, a Premier League gastou um valor quase sete vezes maior do que os clubes da Ligue 1, o Campeonato Francês, nesta janela (€ 117,9 milhões). 

Além disso, a soma do montante investido em contratações pelas equipes dos campeonatos Alemão (Bundesliga), Italiano (Serie A), Francês (Ligue 1) e Espanhol (LaLiga) foi cerca de três vezes menor do que a quantia despendida pelos times ingleses.

No entanto, essa disparidade entre a Premier League e as outras quatro maiores ligas europeias não é algo esporádico. Há pelo menos oito anos, a primeira divisão inglesa é aquela que mais gasta na janela de transferências do meio da temporada (dezembro/janeiro), sendo que, desde julho de 2014, os clubes da elite do futebol da Inglaterra investem mais de € 1 bilhão a cada início de temporada (junho/julho).

De onde vem o dinheiro?

Um time de futebol tem, basicamente, quatro fontes de receita. São elas: a comercial, que envolve a negociação de patrocínios, licenciamentos e franquias, entre outros ativos do clube; a de match day, que inclui a arrecadação com bilheteria e tudo aquilo que é comercializado nos dias de jogos; a obtida por meio da venda de jogadores; e, por fim, a de direitos de transmissão.

No caso da Premier League, essa última é a grande responsável por elevar o faturamento de seus clubes. Mas, antes de entrar no diferencial dos ingleses, é preciso entender como ocorre a venda dos direitos de transmissão da liga.

Diferentemente do que acontece no Brasil, na Inglaterra e em outros países da Europa a venda dos direitos de transmissão ocorre de forma centralizada, ou seja, a liga negocia esses direitos, recebe o pagamento das plataformas de mídia e distribui esse valor para as equipes, segundo alguns critérios que variam de acordo com o regulamento de cada competição.

Na Premier League, a distribuição é feita da seguinte maneira: 50% do valor arrecadado é dividido igualmente entre os 20 clubes da liga, 25% de acordo com a colocação final das equipes na temporada anterior, e os outros 25% conforme a audiência que cada um dos times dá às emissoras.

Produto global

Dessa forma, cria-se uma divisão mais igualitária e justa das receitas com direitos de transmissão. No entanto, o que faz a Premier League faturar mais do que as outras ligas é, principalmente, a qualidade do seu produto, que envolve os melhores jogadores e técnicos do mundo, partidas equilibradas e padronizações que vão desde o gramado até os uniformes das equipes, entre outros aspectos.

Com isso, o mundo inteiro quer assistir à Premier League e consumi-la cada vez mais. Logo, mais plataformas de mídia têm o interesse em contar com os direitos de transmissão da competição, uma vez que existe uma demanda global pelo produto. 

Como prova disso, a Premier League foi a liga de futebol mais popular e assistida do mundo na temporada 2021/2022, segundo o relatório anual divulgado pela organização. A competição ainda teve uma audiência global acumulada de 3 bilhões de espectadores em sua última edição e foi transmitida para 188 países por intermédio de mais de 100 plataformas de mídia.

O reflexo desse alcance é observado nos valores arrecadados pela liga na última temporada. Foram cerca de £ 2,53 bilhões distribuídos entre os 20 clubes da Premier League, montante consideravelmente superior, na verdade o dobro, em relação à quantia alcançada pela LaLiga no mesmo período (€ 1,42 bilhão ou £ 1,27 bilhão, na cotação atual).

Dessa maneira, fica claro como os times ingleses conseguem recursos para tantas contratações. Eles simplesmente faturam mais. Por meio de um produto de alta qualidade, a Premier League consegue vender muito bem o seu ativo, gerando mais dinheiro para seus clubes, que, ao investirem esses recursos, tendem a melhorar ainda mais o nível da competição. A consequência prática é que o futebol inglês se consolida neste ciclo virtuoso e cada vez mais se estabelece como “o melhor futebol do mundo”.

*Estagiário da Máquina do Esporte, sob supervisão de Wagner Giannella

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