Distante dos grandes centros, com poucas atrações turísticas, rede hoteleira precária e dificuldade para o público chegar. Estes são alguns dos problemas levantados por especialistas em marketing esportivo, ouvidos pela Máquina do Esporte, sobre a realização da final da Copa Sul-Americana, entre São Paulo e Independiente del Valle, em jogo único, no Estádio Mário Kempes, em Córdoba, na Argentina, no próximo sábado (1º).
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A final estava originalmente marcada para o Estádio Mané Garrincha, em Brasília (DF). No entanto, a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) teve que alterar a cidade-sede, a pedido da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), por causa das eleições gerais do Brasil, marcadas para o próximo domingo (2).
“Minha estratégia seria uma escolha mais criteriosa da cidade. Precisa ter uma estrutura hoteleira adequada e várias possibilidades de chegar. Na minha opinião, esqueceram esse detalhe”, analisou Bernardo Pontes, sócio da BP Sports, agência com foco em intermediação e ativação no esporte, e colunista da Máquina do Esporte.
“Fico imaginando a dificuldade dos patrocinadores de fazerem ações de ativação em Córdoba”, acrescentou o executivo.
Final em jogo único
A iniciativa da Conmebol de programar final em jogo único para Libertadores e Copa Sul-Americana, estabelecida em 2019, não é vista como estrategicamente errada.
Para Ary Rocco Júnior, vice-presidente da Associação Latino-Americana de Gestão Esportiva (Algede, na sigla em espanhol) e professor da Escola de Educação Física e Esporte da USP (EEFE-USP), porém, é necessário amadurecer o produto.
“A ideia é extremamente interessante para o mercado e os patrocinadores, desde que a Conmebol trabalhe bem o evento. O que é trabalhar o evento? É promover não só o dia do jogo, mas a semana da partida, com ativações de parceiros comerciais e ações de marketing para valorização do evento, entre outras iniciativas. O que não é o caso do que está ocorrendo em Córdoba”, criticou.
Estádio vazio
Um dos problemas para a Conmebol tem sido lotar o estádio da final da Copa Sul-Americana. No ano passado, Athletico-PR e Red Bull Bragantino fizeram a decisão em Montevidéu e levaram menos de 20 mil pessoas ao Estádio Centenário, que tem capacidade para mais de 65 mil torcedores.
A entidade postou o público na parte central das arquibancadas. Mesmo assim, a transmissão da TV captou grandes vazios na arena.
Para Córdoba, o desafio parecia ser menor. A Copa Sul-Americana voltou a ter um time de grande torcida na decisão, o São Paulo, que costuma frequentar a terceira posição nas pesquisas sobre as maiores torcidas do futebol brasileiro. Junto a isso, o Estádio Mário Kempes possui capacidade menor, de 57 mil lugares.
Para tentar atrair os torcedores, a Conmebol disponibilizou entradas aos clubes ao preço de US$ 57. Como comparativo, no ano passado, o valor era US$ 100.
Mesmo assim, a expectativa é que o estádio tenha muitos espaços vazios. O Independiente del Valle abriu mão da maior parte dos ingressos destinados a seus torcedores, ficando com apenas 1.500 entradas. Não é garantia de que todas serão vendidas.
Já o São Paulo possui carga de 23 mil bilhetes, mas, segundo a Máquina do Esporte apurou, a venda tem sido baixa devido a outro problema em relação à cidade-sede: a dificuldade de se chegar a Córdoba e a pequena rede hoteleira disponível no local.
Sem parciais
O número oficial de ingressos comercializados até agora, porém, é uma incógnita. A Conmebol não divulga parciais. Já o São Paulo informou que as entradas são vendidas diretamente pela entidade sul-americana e não tem controle em relação às vendas.
“A final em jogo único serve para privilegiar o aspecto do entretenimento. Para isso, é importante que você garanta que o espetáculo pareça um sucesso. E não vai parecer um sucesso ver o estádio vazio na transmissão da TV. Parece que não funcionou”
Ivan Martinho, especialista em marketing e colunista da Máquina do Esporte
Para Martinho, um problema adicional em realizar a final em um estádio do interior, com dificuldade de acesso, é brecar ações de levar clientes dos patrocinadores do evento.
“Isso tira um público que é extremamente importante em eventos como a Champions League, que é o público corporativo. Quando alguém vai levar convidados, paga caro à Uefa, mas sabe que irá oferecer um serviço de primeira”, lembrou.
“No caso da Sul-Americana, um patrocinador não vai levar o público dele para a final porque terá dificuldade de levar, de conseguir um bom hotel. Se é para passar perrengue, as empresas nem levam convidados”, completou.
Concorrência
Para Fernando Fleury, fundador da Armatore Market+Science e colunista da Máquina do Esporte, uma das vantagens em promover um evento deste tamanho em uma cidade do interior como Córdoba é a possibilidade de contagiar o local.
“A Conmebol pode envelopar a cidade, programar fan fests e atrair toda a atenção da cidade. Em grandes capitais, a final da Copa Sul-Americana iria competir com outros eventos”, afirmou.
O problema é que até aí a entidade escolheu mal a época. Para complicar mais a logística e a promoção da partida, a final acontece no mesmo momento em que ocorre um Congresso Internacional de Medicina na cidade. Não bastasse isso, nesta sexta-feira (30), terá início a Festa Nacional da Cerveja, espécie de Oktoberfest de Córdoba, que irá até o dia 10 de outubro.