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“Kings League não será a mesma dentro de cinco anos”, diz CEO global

Em entrevista exclusiva à Máquina do Esporte, Djamel Agaoua revelou que objetivo é alcançar marca de 30 ligas nacionais no prazo de 3 anos

Djamel Agaoua é o CEO global da Kings League - Divulgação / Kings League

Antes mesmo de completar seu terceiro ano de existência, a Kings League já pode ser considerada um fenômeno global.

No começo, ela costumava ser descrita apenas como a “liga de futebol de 7 criada pelo ex-jogador Gerard Piqué, do Barcelona e da seleção espanhola”. Mas isso mudou.

Inicialmente estabelecida na Espanha, a Kings League já organizou sua própria Copa do Mundo, em 2024. E, hoje, ela conta com ligas espalhadas em diferentes países e regiões do planeta.

Na manhã desta quarta-feira (4), o CEO global da Kings League, Djamel Agaoua, concedeu uma entrevista exclusiva à Máquina do Esporte, na qual comentou sobre os negócios e as estratégias da organização.

O segredo do sucesso da Kings League

Na visão de Djamel, alguns fatores ajudam a explicar o sucesso da Kings League. Um dos principais reside no fato de a competição haver sido concebida para os públicos das Gerações Z e Alfa.

“Esse público consome conteúdos no celular, e não na tela grande. Por isso, produzimos produtos que se encaixam bem em dispositivos móveis. Além disso, os jovens gostam de intensidade e de coisas rápidas, porque têm muitas opções de conteúdo à disposição. Eles podem deslizar para cima em um segundo, então eles querem ver coisas que são emocionantes. E, se não for emocionante depois de dois ou três minutos, eles vão mudar para outro conteúdo”, explicou o executivo.

A participação de streamers e influenciadores é considerada outro ponto essencial para atrair o público jovem.

“Os jovens querem interagir com o conteúdo que estão consumindo. E os streamers oferecem isso quando você consome uma partida da Kings League. Não é como um jogo de futebol na TV, porque você pode discutir com o apresentador, com o cara que está comentando ou com o presidente da sua equipe. Você pode comentar no chat, e ele vai te responder. Você vai impactar a vida do seu clube, e isso é algo que só os streamers podem entregar, porque os streamers têm o hábito de intervir”, ressaltou Djamel.

Na visão dele, o sucesso da Kings League Brasil está longe de representar uma surpresa para os organizadores da competição.

“O Brasil é o país do futebol e um lugar onde também o futebol de 7 tem sido bem-sucedido por muitos anos. O Brasil tem uma grande população jovem. Então, falamos basicamente do que as pessoas amam, futebol e videogame, e misturamos tudo isso em um produto que foi projetado para Brasil”, destacou.

Busca constante pela inovação

Djamel acredita na capacidade da organização de se reinventar para dialogar com novos públicos e realidades. Por isso, o CEO vaticina que, dentro de cinco anos, a Kings League não será mais o mesmo produto que conhecemos atualmente.

“Eu venho do mundo da tecnologia, e nele você tem que inovar, se quiser sobreviver. Se você não inovar, você morre. Será o mesmo para nós: se não inovarmos, morreremos”, enfatizou.

Diante desse cenário, Djamel sabe que a Kings League terá de passar por grandes transformações para seguir com o ar de novidade que tanto agradou o público, especialmente o mais jovem.

“Vamos inovar em termos de tipo de competição e também dos personagens e das lendas que virão se juntar a nós. Vamos mudar as regras do jogo. Sempre teremos que inovar para manter a empolgação em torno do nosso produto”, explicou.

O fato da Kings League controlar todas as camadas do produto torna mais fácil essa missão de inovar, sobretudo no que diz respeito às regras do jogo.

“No esporte tradicional, para você mudar uma regra do basquete ou do futebol, isso leva pelo menos sete anos. Já nós controlamos tudo, então podemos mudar as coisas”, comentou.

Expansão

Atualmente, a Kings League está presente em seis países: México, Brasil, Espanha, Alemanha, França e Itália.

Além das ligas masculinas, a organização também conta com as Queens Leagues (femininas) na Espanha e no México.

Segundo Djamel, o plano de expansão da organização passa necessariamente pela criação de Queens Leagues nos mercados em que ela já atua, incluindo no Brasil, que sediará a Copa do Mundo Feminina da Federação Internacional de Futebol (Fifa) em 2027.

Os resultados alcançados pelas duas Queens Leagues já existentes são considerados positivos, avaliou Djamel.

De acordo com o executivo, a Kings League já cogita a criação de novas ligas em mercados como Estados Unidos, Ásia (ele citou nominalmente Japão e Coreia do Sul) e Europa.

“Expandiremos a Kings League para um mínimo de 30 países nos próximos três anos”, garantiu o CEO.

Relação com o futebol tradicional

Apesar da grande repercussão alcançada em todo o mundo, a Kings League está longe de ser uma unanimidade nos mercados em que está presente.

Quando foi lançada na Espanha, por exemplo, chegou a ser taxada de “circo” por Javier Tebas, presidente da LaLiga, que organiza o Campeonato Espanhol.

Por aqui, a Kings League Brasil tem sido alvo de comentários não muito elogiosos em determinados setores da mídia.

O atacante Neymar, do Santos, recebeu uma saraivada de críticas em programas esportivos porque resolveu comparecer ao Allianz Parque para acompanhar de perto a final da competição (na qual sua equipe, a Furia, sagrou-se campeã), realizada no último dia 18 de maio.

Nesse mesmo dia, o Santos foi derrotado pelo Corinthians, em clássico válido pela Série A do Brasileirão. O astro, que estava machucado, não foi sequer relacionado para a partida. Porém, a presença dele no jogo da Kings League acabou sendo usada como munição contra o atleta.

Na visão de Djamel, as críticas e questionamentos feitos em relação à Kings League estão relacionados ao fato de ser um produto novo no mercado.

“É um produto diferente. Você não pode impedir que as pessoas olhem para nós como algum tipo de anomalia que não deveria existir, enquanto outras nos enxergam como a melhor maneira de inovar, experimentar coisas novas e capturar o público jovem”, disse.

“As ligas nacionais, em todos os lugares, têm o olhar inicial de que iremos competir com elas e levar seu público e seus jogadores”, explicou o CEO.

Segundo ele, porém, essa competição não existe.

“Não tenho dúvida de que o futebol [tradicional] será o esporte número 1 do mundo nos próximos 20 anos. E não temos essa ambição [de substituir o futebol]. Na verdade, somos a melhor maneira de o futebol alcançar audiências jovens”, afirmou.

De acordo com Djamel, algumas organizações de futebol tradicional já vislumbraram o potencial que a Kings League possui de alcançar novas audiências.

A Serie A, da Itália, por exemplo, topou de imediato firmar uma parceria com a organização de futebol de 7, após Djamel responder a quatro perguntas feitas pelo CEO da entidade, Luigi De Siervo.

“Foi uma conversa de 30 minutos. O presidente perguntou se eu levaria os jogadores dele. Respondi que não, pois usamos amadores. Ele indagou se eu usaria seus estádios, e eu disse que também não. Ele perguntou se eu tomaria seus patrocinadores. Expliquei que não. Por fim, ele me questionou: ‘então, o que você faz?’. Respondi: ‘Pego novos olhos e os trago para o futebol'”, revelou Djamel.

Hoje, os streamers da Kings League italiana fazem divulgação dos jogos da Serie A. As duas organizações realizam eventos em parceria e trabalham em conjunto na construção do calendário, para que as datas de jogos importantes não se choquem.

No caso da LaLiga, Djamel contou que teve a oportunidade de se encontrar com Javier Tebas, o qual, anteriormente, havia afirmado que a Kings League duraria no máximo quatro meses.

“Ele entendeu que não vamos ameaçar Barcelona ou Real Madrid, nem substituir ninguém”, ponderou.

Segundo Djamel, por enquanto, a Kings League ainda não foi procurada por entidades como a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que comanda a modalidade tradicional no país, para tratar de eventuais parcerias.

“É normal que no início as pessoas não saibam quem somos e se a coisa vai funcionar ou não. Mas, depois do resultado que tivemos no Brasil, com 8 milhões a 10 milhões de pessoas conectadas todos os dias de jogo, um número tão grande, produzimos muitas impressões para as marcas. Acima de 80% do nosso público é jovem. Ficaremos felizes em discutir com elas [as entidades que comandam o futebol tradicional no Brasil] no devido tempo. Se, do outro lado, elas quiserem discutir, nós o faremos, e nossa porta estará aberta, porque não competimos com o futebol tradicional”, concluiu.