Depois de cerca de dez dias, desde que seu nome começou a circular no noticiário como possível novo CEO do Corinthians, Fred Luz enfim foi oficializado no cargo.
O executivo foi apresentado pelo presidente Augusto Melo, em entrevista coletiva realizada na manhã desta quarta-feira (3), no Centro de Treinamento Joaquim Grava, em São Paulo (SP).
Luz estava acompanhado de Pedro Silveira, ex-CEO da XP, que será o novo diretor financeiro do Corinthians. Antes de passar a palavra à dupla, Melo afirmou que ambos terão “toda autonomia” para trabalhar.
Ao responder à primeira pergunta dos jornalistas, relativa à situação financeira do clube, Luz aproveitou para fazer um breve pronunciamento. “Em primeiro lugar, quero dizer que é uma honra estar aqui. Estou muito animado e acredito que o Corinthians tem potencial para liderar o futebol brasileiro”, afirmou.
Ele então prosseguiu: “A situação relativa atual do Corinthians, em comparação ao Flamengo da época em que assumi [em 2013, na gestão do ex-presidente Eduardo Bandeira de Mello], é muito melhor. Não quer dizer que não existam problemas. Quero deixar claro que não existe essa história de ‘salvador da pátria’. E que o começo será de sofrimento.”
Comitê de notáveis
Luz e Silveira evitaram detalhar as principais ações concretas que irão tomar à frente de seus respectivos cargos. Os dois argumentaram que precisam conhecer melhor a realidade do Corinthians, antes de formular qualquer diagnóstico ou tratamento.
“Ao longo das próximas semanas, vamos nos inteirar da situação e definir, com muita serenidade, onde estamos e em que lugar pretendemos chegar”, disse Silveira.
Fred Luz avaliou que essa análise inicial pode demorar de quatro a cinco semanas. “Vamos mapear gaps e oportunidades de redução de custos e geração de receitas, não apenas dos patrocínios, mas de outras áreas do clube”, afirmou.
Silveira, no entanto, anunciou a criação de uma espécie de comitê consultivo externo, composto por corintianos famosos e que ocupam cargos em grandes empresas, para auxiliarem na elaboração de sugestões para o clube, na área financeira.
“Queremos aproximar os grandes corintianos”, afirmou. Entre os nomes citados por Silveira, que prestarão esse auxílio à gestão do clube, estão: Marcelo Bacci, executivo da Suzano Papel e Celulose; Renato Breia, fundador da Nord Research; e Alexandre Manuel, economista-chefe da AZ Quest.
Equacionar a dívida
Apesar de ainda estarem na fase de conhecer a realidade do clube, Luz e Silveira demonstraram preocupação com o endividamento do Corinthians.
O CEO afirmou que acompanhará de perto, junto ao Departamento Financeiro, a questão do equacionamento da dívida. “Esse é um trabalho que faremos em conjunto, com inteligência e respeito aos credores, para que possamos alcançar o equilíbrio financeiro e o futebol não seja drenado”, disse Luz.
O executivo evitou comentar sobre os resultados da auditoria realizada pela Ernst & Young, contratada no início da gestão de Melo. Disse que seria prematuro e leviano fazer afirmações no atual momento. “Primeiro precisamos entender a situação, e logo, porque o Corinthians está pagando juros, e eles representam gastos que não revertem nada em resultados esportivos para o clube. Eles vão para o banco”, ponderou Luz.
Na visão de Pedro Silveira, a ideia seria transformar o endividamento do Corinthians em uma situação, por assim dizer, saudável. “Toda grande empresa tem dívidas. O importante é que elas não atrapalhem o dia a dia do clube”, explicou.
Com relação ao financiamento do Corinthians com a Caixa, para a construção da Neo Química Arena, Silveira disse não ter como garantir que essa dívida estará liquidada em até três anos. Vale lembrar que hoje esse passivo representa uma das principais fontes de endividamento da equipe paulista.
Silveira chegou a ser perguntado quanto à possibilidade de o Corinthians aderir ao modelo de Sociedade Anônima do Futebol (SAF), mas disse que esse não seria assunto a ser tratado neste momento.
Como Corinthians usará o adiantamento da LFU?
Pedro Silveira comentou sobre os R$ 150 milhões que o Corinthians receberá pela assinatura do contrato direitos de transmissão com a Liga Forte União (LFU).
O diretor reconheceu que esse adiantamento pode se converter em um empréstimo, conforme noticiou a Máquina do Esporte. Por enquanto, segundo ele, não está definido como esse recurso será utilizado.
“Ainda não temos uma avaliação. Sei que precisamos regularizar os atrasados do time principal”, afirmou Silveira, que elogiou o contrato firmado pelo Corinthians com a LFU.
“Pelo que vi das duas propostas [a outra era da Liga do Futebol Brasileiro (Libra), grupo do qual o Corinthians fez parte], o clube fez um grande negócio, pois conseguiu garantias mínimas maiores, em relação aos demais times”, explicou.
Tanto ele quanto Luz adotaram um discurso defendendo a criação de uma liga unificada, com a participação dos times da LFU e da Libra.
Conflito de interesses?
Fred Luz foi questionado sobre sua relação com a consultoria Alvarez & Marsal, empresa da qual é sócio e onde comandava a área de esportes e entretenimento.
O executivo afirmou que seguirá na condição de sócio da empresa, mas que já não prestará atendimento a nenhum dos clientes dela. “Vou ficar 100% focado no Corinthians”, garantiu.
Além disso, Luz declarou não ter participado de qualquer discussão relativa ao contrato de direitos de transmissão do clube, seja representando o Corinthians, seja do lado da LFU.
Luz chegou a ser questionado sobre a relação da Alvarez & Marsal com a Forte União. De acordo com ele, a empresa inicialmente prestava consultoria a dez equipes que debatiam a criação de uma liga no Brasil. “A assessoria sempre foi para os clubes”, disse.
Ainda segundo ele, após a criação da LFU, quando os times da antiga Liga Forte Futebol (LFF) uniram-se a Vasco, Cruzeiro e Botafogo, a Álvarez & Marsal teria deixado de prestar assessoria aos clubes. Pouco tempo depois, porém, a empresa foi contratada para administrar o comitê condominial que trata dos interesses da Forte União.
O executivo afirmou, todavia, que a consultoria não participou das negociações com investidores, relativas à venda de direitos comerciais ou de transmissão dos clubes da LFU. Na visão dele, portanto, não existe conflito de interesse em sua contratação como CEO do Corinthians.