O que está por trás do acordo entre Corinthians e Caixa Econômica Federal

Carlos Vieira (esq.), presidente da Caixa, visitou o estádio do Corinthians neste domingo (19) - Rubens Machado / Divulgação

O Corinthians divulgou recentemente um acordo para liquidar a dívida do seu estádio com a Caixa Econômica Federal, banco que financiou a construção da arena localizada em Itaquera, na zona leste de São Paulo.

Antes disso, observou-se uma movimentação estratégica entre os dirigentes do clube e do banco estatal. Na semana passada, o atual presidente do Corinthians, Duilio Monteiro Alves, dirigiu-se a Brasília (DF), onde presenteou o presidente Lula com uma camisa autografada pelo goleiro Cássio. Já neste último fim de semana, o presidente da Caixa Econômica Federal, Carlos Vieira, visitou a Neo Química Arena para conhecer o estádio financiado pela instituição.

Essas ações poderiam ser interpretadas como procedimentos rotineiros, não fosse pelo contexto político do Corinthians: no próximo sábado (25), o clube terá eleições presidenciais para definir um novo mandato para os próximos três anos. A chapa da situação, chamada de Renovação e Transparência, busca a reeleição pelo sexto pleito consecutivo, enfrentando uma oposição liderada por Augusto Melo, que tem conquistado apoio de outras chapas e pode interromper um ciclo de 15 anos de um único grupo no controle do clube.

Na última sexta-feira (17), quando o acordo foi noticiado, os detalhes da proposta não foram divulgados nem pelo clube nem pelo banco.

Entenda o real acordo

O anúncio divulgado pelo Corinthians menciona “quitação do saldo devedor”, o que dá a entender que a dívida seria, de fato, quitada. No entanto, na prática, não é bem assim.

De acordo com informações divulgadas pelo GE, a proposta do Corinthians foi substituir a dívida da arena, que soma cerca de R$ 611 milhões, pelo pagamento de precatórios da Caixa (dívidas que o banco teria que pagar a longo prazo a terceiros). 

O Corinthians propõe assumir os precatórios da Caixa, ou seja, trocar a dívida da Arena por outras dívidas, sendo que a aquisição de precatórios é realizada com um desconto considerável. Isso significa que o clube continuaria com uma dívida relacionada indiretamente ao estádio, porém com um valor inferior.

Nesses moldes, a Caixa pode recuperar um valor que já não estava mais previsto em sua contabilidade. Mesmo com um acordo de renegociação feito em 2022, uma auditoria do banco classificou o dinheiro emprestado ao clube como “perdido”. 

Assim, o banco deixaria de receber o montante da Neo Química Arena, mas, pelo menos, veria o devedor saldar outras dívidas. O detalhe não divulgado, entretanto, é sobre quais e quanto valem esses precatórios assumidos pelo Corinthians.

Garantia

Além disso, os naming rights da Neo Química Arena serão direcionados a uma conta da Caixa para complementar o acordo, sem passar inicialmente por uma conta do clube. Essa ação é vista como uma cláusula de garantia entre as partes.

Em 2020, o Corinthians vendeu os naming rights do seu estádio para a Hypera Pharma por R$ 300 milhões, passando a se chamar Neo Química Arena. O contrato, válido até 2040, tem uma receita-base de R$ 15 milhões por temporada, ajustada anualmente pelo Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M). Com os reajustes anuais, o valor atual do acordo é de aproximadamente R$ 17,8 milhões por ano.

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