No auge da crise de imagem após seguidos casos de racismo, o presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, colocou mais álcool na fogueira após um comentário infeliz.
Questionado por um repórter como ele imaginaria a Libertadores sem a participação dos clubes brasileiros, o paraguaio afirmou que “isso seria como Tarzan sem Chita. Impossível”.
A comparação dos times do Brasil com a personagem, interpretada por um chimpanzé no cinema, nos anos 1930 e 1940, e também em uma popular série de TV, nos anos 1960, acontece no auge da crise de imagem da Conmebol em relação ao racismo.
Há seguidos casos de manifestações discriminatórias em torneios da entidade, que vem sendo criticada por agir de maneira muito branda para punir esses crimes.
No início do mês, durante um jogo da Libertadores Sub-20, no Paraguai, o atacante Luighi, do Palmeiras, foi alvo de um torcedor do Cerro Porteño, que imitou um macaco para o jogador, segurando uma criança no colo.
Mesmo após a denúncia do jogador, a arbitragem se negou a seguir qualquer protocolo contra o racismo. O brasileiro ainda teve que destacar o crime do qual havia sido vítima a um repórter que ignorou o problema e quis apenas perguntar sobre o jogo.
A Conmebol demorou três dias para divulgar a punição ao Cerro Porteño: multa de US$ 50 mil, ter que jogar com portões fechados o resto da competição (a equipe só faria mais um jogo) e programar uma campanha contra o racismo em suas redes sociais.
A pena foi considerada branda pelo Palmeiras e pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que recorreram à Fifa para tratar da questão.
Leila Pereira, presidente do Palmeiras, chegou a propor que os clubes brasileiros, que representam a maior parte do faturamento da Conmebol, jogassem os torneios da Concacaf. A pergunta direcionada a Domínguez fazia menção justamente a isso.
Após a comparação infeliz, Domínguez postou uma mensagem no X se desculpando.
“Em relação às minhas declarações, quero expressar minhas desculpas. A expressão que utilizei é uma frase popular e jamais tive a intenção de menosprezar nem desqualificar ninguém. A Conmebol Libertadores é impensável sem a participação dos clubes dos dez países-membros”, afirmou o dirigente.
“Sempre promovi o respeito e a inclusão no futebol e na sociedade, valores fundamentais para a Conmebol. Reafirmo meu compromisso de seguir trabalhando por um futebol mais justo, unido e livre de discriminação”, acrescentou.
Patrocinadores
Questionados pela Máquina do Esporte, a maioria dos patrocinadores e parceiros comerciais da Conmebol não comentou o assunto.
Quem se manifestou, preferiu divulgar mensagens de apoio a Luighi, sem cobrar ações mais duras da entidade que comanda o futebol sul-americano. Foi o caso de Amstel, Hyundai, Mapfre e Puma.
O Mercado Livre foi o único patrocinador que afirmou que tinha acionado a Conmebol para reiterar sua posição sobre o racismo.
No dia seguinte, mais duas empresas que haviam ignorado o contato inicial da reportagem, resolveram de manifestar. Ainda assim, evitaram bater de frente com a entidade.
A DHL divulgou apenas uma mensagem de apoio ao brasileiro e ignorou o questionamento sobre se achava corretas as penas pedidas. Já a Mastercard disse que havia solicitado à Conmebol uma “visão completa das medidas planejadas para lidar com essa importante questão”.
Coca-Cola, Crypto.com e TCL (patrocinadoras), Absolut Sport e Powerade (parceiras), e Panini (licenciada) permanecem em silêncio sobre o assunto.