O futebol brasileiro vai, enfim, conseguindo superar os prejuízos ocasionados pela pandemia de Covid-19, que paralisou campeonatos e forçou o fechamento de estádios, durante seu auge, em 2020.
No ano passado, as receitas brutas totais obtidas pelos 20 clubes que disputaram a Série A do Brasileirão (América-MG, Athletico-PR, Atlético-MG, Bahia, Botafogo, Corinthians, Coritiba, Cruzeiro, Cuiabá, Flamengo, Fluminense, Fortaleza, Grêmio, Goiás, Internacional, Palmeiras, Red Bull Bragantino, Santos, São Paulo e Vasco) bateram recorde, alcançando R$ 8,838 bilhões, um crescimento de 22,4% na comparação com os R$ 7,234 bilhões obtidos em 2022.
Dos times acima citados, Santos, Goiás, Coritiba e América-MG acabaram sendo rebaixados e disputam a Série B em 2024.
Os números são do Relatório Convocados 2024, feito em parceria com a Outfield e patrocínio da Galapagos Capital, e mostram que, pela primeira vez, o faturamento bruto total da principal competição do futebol brasileiro conseguiu ultrapassar os níveis pré-pandemia.
De acordo com o relatório, o melhor resultado das receitas brutas do campeonato havia sido registrado em 2019, quando alcançou a marca de R$ 8,733 bilhões. À época, os ganhos dos clubes que disputavam a primeira divisão nacional vinham em uma curva ascendente, iniciada em 2014, ano em que foi realizada a Copa do Mundo no Brasil, com as equipes da Série A faturando um total de R$ 4,832 bilhões.
A partir daí, o movimento foi de crescimento constante, com direito a alguns saltos, como o verificado entre 2016 e 2017, quando as receitas brutas da Série A passaram de R$ 5,532 bilhões para R$ 7,930 bilhões.
Em 2020, com a pandemia (que não apenas ceifou a renda com bilheteria, mas também afetou as transações de jogadores, que representam uma fonte importante de receitas para os clubes brasileiros, além dos direitos de transmissão em diversas competições), o faturamento das equipes da Série A registrou uma queda brusca, para R$ 6,228 bilhões, ficando abaixo, portanto, do nível de 2017.
No ano retrasado, as receitas brutas totais dos clubes que disputaram a primeira divisão nacional ainda estavam aquém desse patamar, atingindo R$ 7,234 bilhões, o que representou uma queda de 5,8% em relação a 2021, quando o faturamento foi de R$ 7,679 bilhões.
"Teremos várias justificativas para o excelente salto de receitas totais em 2023, mas a mais relevante delas é o retorno de Bahia, Cruzeiro, Grêmio e Vasco, que carregam um volume maior de receitas que os clubes que estiveram na Série A em 2022", destaca o relatório, elaborado pelo economista Cesar Grafietti.
Os dados sobre as receitas brutas trazidos pelo relatório não levam em conta os valores de adiantamento obtidos pelos clubes da Liga Forte União (LFU) com a venda de 20% de seus direitos comerciais, em um negócio fechado com a Life Capital Partners (LCP), a XP Investimentos e a norte-americana General Atlantic, avaliado em R$ 2,6 bilhões.
Receitas recorrentes
O Relatório Convocados 2024 também mostra um crescimento constante nas receitas recorrentes dos clubes da Série A, que atingiram R$ 7,216 bilhões no ano passado, o equivalente a 82% do faturamento bruto total obtido no período.
Nesse estudo, receitas operacionais dizem respeito a toda a renda que é gerada no dia a dia do clube, exceto o valor ganho com negociações de atletas, fonte de recursos considerada "muito errática".
Um dado que chama a atenção no relatório é que, depois de uma queda de 29,3% registrada entre 2019 e 2020 (passou de R$ 5,543 bilhões para R$ 3,895 bilhões, devido aos impactos da pandemia), as receitas recorrentes passaram a alcançar repetidas altas na Série A.
Em 2021, elas já estavam em R$ 5,979 bilhões, ultrapassando o período crítico da pandemia.
Outro detalhe importante é que o peso relativo desse tipo de receita também tem aumentado nos últimos anos.
Até 2016, a proporção das receitas recorrentes no faturamento total dos clubes da Série A do Brasileirão estava na casa de 85%.
A partir de 2017, quando houve um salto nos ganhos brutos das equipes, a participação das receitas recorrentes na composição caiu para 63%. Em 2021, o percentual cresceu para 78%, atingindo 86% em 2022.
A ligeira queda no peso das receitas recorrentes verificada em 2023 é atribuída ao aumento no volume obtido com negociações de atletas nesse período.
Composição das receitas
O Relatório Convocados 2024 mostra ainda que os direitos de transmissão ainda têm um peso significativo na composição das receitas dos clubes da Série A do Brasileirão. Porém, seu peso relativo vem caindo nos últimos anos.
Em 2021, por exemplo, essa fonte de recursos, de R$ 3,831 bilhões, respondia por 52% do faturamento bruto das equipes que disputavam a competição.
No ano passado, a participação dos direitos de transmissão (que renderam R$ 3,124 bilhões) nas receitas totais dos clubes da Série A caiu para 35,34%.
Em 2022, o peso relativo dos direitos de transmissão estava em 39,9%. O total de recursos obtido pelos clubes com essa fonte de receitas, naquele ano, foi de R$ 2,881 bilhões.
A queda na participação dos direitos de TV na composição do faturamento total dos clubes está diretamente relacionada ao incremento verificado em suas outras fontes de renda, especialmente as receitas comerciais, que cresceram 31% entre 2022 e 2023, passando de R$ 1,380 bilhão para R$ 1,807 bilhão, montante que ultrapassa a quantia obtida pelas equipes da Série A com a negociação de atletas no ano passado, que foi de R$ 1,622 bilhões.
A renda com bilheteria nos jogos e com os programas de sócio-torcedor é outro item que também se destacou no relatório, com um impulso de 44% na comparação entre 2022 e 2023, saltando de R$ 1,052 bilhão para R$ 1,511 bilhão.
"Estes movimentos são importantes na diversificação de receitas e redução da dependência dos direitos de transmissão, que permitem aos clubes trabalharem a gestão do risco no longo prazo, dada a tendência de redução no valor dos direitos", afirma o estudo.
Flamengo foi o que mais faturou, Botafogo é quem mais cresceu
O Relatório Convocados 2024 mostra que o Flamengo segue na liderança do ranking das equipes da Série A que mais faturam, sendo o único a ultrapassar a marca de R$ 1 bilhão. As receitas do clube cresceram 10% entre 2022 e 2023, passando de R$ 1,224 bilhão para R$ 1,348 bilhão.
Logo abaixo vem o Corinthians, que desbancou o Palmeiras do segundo lugar, com resultado de R$ 931 milhões. O Alviverde está em terceiro, com R$ 829 milhões, seguido pelo São Paulo, com R$ 681 milhões.
O Red Bull Bragantino está em quinto lugar, com R$ 488 milhões em receitas brutas, acima do atual campeão da Copa Libertadores, o Fluminense, que faturou R$ 481 milhões em 2023, e do Atlético-MG, que alcançou R$ 431 milhões no período.
Já quando o assunto é crescimento das receitas, o Botafogo, que chegou a liderar grande parte das rodadas da Série A do ano passado, foi o clube que obteve o maior percentual, de 139%, passando de R$ 128 milhões, em 2022, para R$ 355 milhões, em 2023.
A Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do Botafogo atualmente é controlada pela Eagle Football Holdings, do empresário norte-americano John Textor.
O Vasco, que também é uma SAF (administrada pela 777 Partners, em uma relação que se tornou tempestuosa em tempos recentes, devido à crise enfrentada pela empresa ao redor do mundo), registrou o segundo maior aumento percentual de receitas no período, de 110%, passando de R$ 160 milhões para R$ 336 milhões.
Os clubes mais dependentes dos direitos de transmissão em 2023, segundo o relatório, foram Goiás (60% das receitas brutas totais), Fluminense (58%), Grêmio e Cuiabá (ambos com 54%).
Já os clubes que menos dependeram das cotas de TV para faturar no ano passado foram Red Bull Bragantino (18%), Athletico-PR (19%) e Santos (24%).