Na última quinta-feira (7), a Liga Saudita de Futebol (conhecida também pelo nome em inglês Saudi Pro League) encerrou sua temporada de transferências.
Em um ano marcado pelos fortes investimentos do governo comandando pela família Saud, via Fundo Público de Investimentos (PIF, na sigla em inglês), a competição do Oriente Médio ajudou a turbinar o mercado de contratações na janela de verão do Hemisfério Norte.
Em 2023, o volume de dinheiro gasto em transferências na metade do ano (US$ 7,36 bilhões) foi 47% maior do que no mesmo período de 2022 (cerca de US$ 5 bilhões), além de haver superado em 19% o recorde de 2019, que chegou a US$ 5,8 bilhões.
A partir de 2020, os valores investidos passaram a registrar queda, em decorrência da paralisação dos campeonatos ocasionada pela pandemia de Covid-19. Em 2021, por exemplo, o total movimentado foi de US$ 3,85 bilhões. Os números são do relatório da Federação Internacional de Futebol (Fifa), divulgado no início deste mês.
Concorrente de peso
A retomada dos campeonatos e a recuperação econômica que se seguiu ao fim da fase crítica da pandemia certamente contribuíram para o aumento nos gastos com contratações na janela de transferências. Mas não explicam o “boom” ocorrido neste ano. O recorde verificado em 2023 tem relação direita com a entrada de um concorrente poderoso nas mesas de negociações.
Apostando em contratações de vulto para atrair visibilidade internacional ao seu campeonato, caso do atacante brasileiro Neymar, contratado pelo Al-Hilal junto ao PSG por € 90 milhões (quase R$ 477 milhões, na cotação atual), a Liga Saudita passou a despejar rios de dinheiro no mercado do futebol.
Na janela de verão do Hemisfério Norte, apenas a Premier League investiu mais em contratações do que a competição da Arábia Saudita. Segundo o relatório da Fifa, o Campeonato Inglês gastou US$ 1,98 bilhão para trazer novos jogadores, ao passo que o torneio do Oriente Médio destinou US$ 875,4 milhões para essa finalidade.
Apesar de levar desvantagem considerável na comparação com a Premier League, a Liga Saudita leva a melhor em relação a todos os demais grandes campeonatos da Europa, incluindo Ligue 1 (US$ 859,7 milhões), Bundesliga (US$ 762,4 milhões), Serie A (US$ 711,8 milhões) e LaLiga (US$ 405,6 milhões).
Novo momento do mercado
O bom desempenho da Liga Saudita no ranking das competições que mais investiram na contratação de jogadores estrangeiros pode ser explicado por vários fatores. O mais óbvio deles é o recente movimento feito pelo governo da nação do Oriente Médio, que tenta usar o esporte para construir uma imagem positiva do país, abafando assim as denúncias de graves violações de direitos humanos praticadas contra dissidentes políticos, mulheres, imprensa, minorias religiosas e pessoas LGBTQIA+.
Eventos esportivos também integram a estratégia saudita para impulsionar o turismo, com o objetivo de diversificar sua economia, hoje dependente do petróleo, que responde por 90% das exportações e 75% das receitas orçamentárias do país.
Desde o fim do ano passado, portanto, a Arábia Saudita tem realizado um forte trabalho com o intuito de atrair jogadores de prestígio internacional, o que acaba por elevar os gastos da liga do país com contratações.
Isso não significa, necessariamente, que as competições europeias ficarão desprovidas de craques. Nos últimos tempos, conforme noticiou a Máquina do Esporte, grandes clubes têm optado pela estratégia de trazer astros em fim de contrato, de modo a não terem que pagar a multa ao time de origem.
Um exemplo notório é o de Kylian Mbappé, que aparece avaliado em mais de US$ 190 milhões na plataforma Transfermarkt, mas poderá deixar o PSG de graça no início do ano que vem. O destino mais provável é o Real Madrid. Se isso de fato acontecer, a LaLiga passará a contar com o artilheiro da última Copa do Mundo, disputada no Catar, mesmo com seus clubes investindo menos que os da Liga Saudita.
Outro fator que não pode ser ignorado é que o perfil das contratações da Liga Saudita difere das competições europeias. No Oriente Médio, a faixa etária dos jogadores (acima de 27 anos, na maioria dos clubes) é maior, e eles possuem mais “rodagem”, caminhando para o fim da carreira. Na Espanha, por outro lado, a média de idade das contratações é mais baixa e envolvem talentos que possuem potencial de aumentar seu valor de mercado.
No Real Madrid, segundo que mais gastou com contratações na LaLiga, com € 196,5 milhões, a faixa etária dos reforços está na casa dos 23,5 anos. Nesta janela de verão, o clube trouxe nomes promissores, como o britânico Jude Bellingham, de 20 anos, destaque da Inglaterra na última Copa do Mundo.