Eleita como membra independente para o Conselho de Administração do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Daniela Castro espera utilizar o bom trânsito que possui entre o empresariado para trazer mais patrocinadores às confederações olímpicas.
Diretora-executiva do Pacto pelo Esporte, entidade que congrega patrocinadores e defende a melhoria da governança em entidades esportivas, ela contou com o apoio da Comissão de Atletas do COB (Cacob), que teve direito a 19 votos, para derrotar o outro candidato independente ao Conselho, Ricardo Leyser, ex-ministro do Esporte no governo de Dilma Roussef, que tentava a reeleição.
“Melhorar a governança no COB e nas confederações olímpicas é minha pauta principal. A outra é trazer mais patrocinadores para se engajarem neste desenvolvimento do esporte. Precisamos ter mais setores privados no esporte”, salientou Daniela, em entrevista à Máquina do Esporte.
Para ela, o aprimoramento da gestão e governança das entidades olímpicas dará mais confiança ao mercado para patrocinar o esporte. Segundo a executiva, as confederações necessitam ainda mais do que o COB dessa aproximação com a iniciativa privada.
“Acho que tem muita margem para crescer. Empresas, hoje, sentem mais segurança no meio esportivo. Atualmente, vemos o interesse da iniciativa privada no esporte se fortalecendo. Mas as empresas precisam conhecer mais as entidades, e essas precisam melhorar suas entregas no esporte”, ressaltou.
Além de única membra indepentente, Daniela também é a única mulher no Conselho, que ainda viu a eleição de presidentes de seis confederações olímpicas: vôlei (Radamés Lattari), handebol (Felipe Barros), canoagem (Rafael Girotto), tiro esportivo (Jodson Edington), desportos na neve (Karl Pettersson) e wrestling (Flavio Neves).
Reeleição
Uma das principais atuações do Pacto pelo Esporte antes das eleições do COB foi se manifestar publicamente contra a reeleição do atual presidente, Paulo Wanderley Teixeira. O dirigente subiu ao poder em 2017, após a renúncia do então presidente Carlos Arthur Nuzman, envolvido em denúncias de compra de votos para a eleição do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016.
Paulo Wanderley, já como presidente, ganhou a eleição de 2020 e conquistou mais quatro anos à frente do COB. Para o Pacto pelo Esporte, se o presidente fosse reeleito configuraria um terceiro mandato, infringindo o artigo 18-A da Lei Pelé, ratificado no ano passado pela Lei Geral do Esporte (LGE).
“Pessoalmente, não tinha nada contra o Paulo Wanderley. O posicionamento do Pacto pelo Esporte não era uma demonstração de apoio ao Marco Antonio La Porta [candidato de oposição]. Era a defesa da governança da própria lei”
Daniela Castro, diretora-executiva do Pacto pelo Esporte
Caso tivesse configurado um terceiro mandato, o COB perderia o direito de receber recursos públicos, como a Lei Piva, que destina parte da arrecadação das loterias para o esporte olímpico e paralímpico, uso dos mecanismos da Lei de Incentivo ao Esporte e até o patrocínio da Caixa Econômica Federal, firmado no mês passado. Pelo contrato, o banco estatal desembolsará R$ 40 milhões por ano durante o próximo ciclo olímpico, que irá até os Jogos de Los Angeles 2028.
“Acho que a lei é clara e não dá muita margem a discussão. Tem funcionado bem desde 2013 [ano da aprovação]. É muito clara. Não pode ter mais de dois mandatos, e os atletas têm direito a voto [nas eleições]”, afirmou Daniela.
Ministério do Esporte
À ocasião, nem Ministério do Esporte (Mesp) nem Caixa Econômica Federal se pronunciaram sobre o caso. Questionados pela Máquina do Esporte à época, o Mesp apenas afirmou que analisava o caso e não chegou a tomar uma posição antes do pleito. Já a Caixa não se pronunciou.
“Nossa atuação como Pacto foi tentar garantir que o artigo 18-A fosse seguido. A lei é objetiva, de fácil entendimento. Não dá margem para dupla interpretação”, acrescentou a nova membra independente do Conselho de Administração do COB.
A defesa de Paulo Wanderley argumentava que o dirigente havia assumido um “mandato-tampão” em 2017 e sua primeira eleição só contaria em 2020.
Caso vencesse a disputa, Paulo Wanderley ficaria 11 anos à frente do COB. O imbróglio jurídico só não aconteceu porque o dirigente perdeu a eleição para Marco Antonio La Porta, por 30 votos a 25.
“Havia receio de que isso criasse uma insegurança jurídica. O entendimento de que seria o terceiro mandato poderia envolver órgãos públicos, como o TCU [Tribunal de Contas da União]. Havia risco à reputação do COB”, concluiu a executiva.