O avanço de plataformas de conteúdos audiovisuais como Amazon Prime Video, Netflix, HBO Max e Disney+ criou um impasse de difícil solução para as operadoras de televisão por assinatura. Na Espanha, por exemplo, o número de assinantes de TV paga registrado no fim de 2021 era de 8,3 milhões, queda de 3% em relação ao verificado no primeiro trimestre do mesmo ano. Os números são da Comissão Nacional de Mercados e Concorrência (CNMC) do país europeu.
Enquanto isso, o Relatório Econômico Setorial de Telecomunicações e Audiovisual do CNMC mostrou que os streamings somavam, juntos, 18,9 milhões de assinantes na Espanha no mesmo período. Nesse cenário conturbado para as operadoras tradicionais, o investimento no esporte tem representado um diferencial para que elas possam equilibrar essa “guerra”.
Diante da impossibilidade de competirem com os serviços de streaming na produção de conteúdos audiovisuais como filmes, séries e novelas, as operadoras de TV paga podem recorrer à aquisição de direitos de transmissões esportivas, terreno em que acumulam experiência maior, com a vantagem de contarem com canais de monetização que não se limitam à exibição das competições em si e que podem ser expandidos com pacotes de telefonia e acesso à Internet.
Outra vantagem das transmissões esportivas para as operadoras é que o conteúdo se renova naturalmente, com as exibições ao vivo e a cobertura de um modo geral, em contraposição à dificuldade que os streamings enfrentam de repor constantemente seu catálogo de filmes e séries.
De olho no mercado esportivo
Até muito recentemente, o único grande streaming a apostar no segmento esportivo era o DAZN. Mas esse cenário também está em vias de ser transformado, com a entrada do Amazon Prime Video na LaLiga SmartBank (segunda divisão espanhola). A compra dos direitos internacionais de transmissão da MLS pela Apple por dez anos é mais um indício de que o predomínio das operadoras de TV por assinatura nesse campo pode estar com os dias contados.
Para fazer frente a esse avanço, gigantes das telecomunicações como a espanhola Movistar e a francesa Orange ampliaram, nos últimos meses, conteúdos relacionados ao futebol. Ao lado da Vodafone, essas empresas controlam 74,2% do mercado varejista de TV por assinatura na Espanha.
Queda nas receitas e assinantes
A tendência de queda de assinantes nesse serviço no país europeu começou a ser registrada a partir do segundo semestre do ano passado. Até então, os números vinham apresentando ascensão constante, até atingirem um pico de 8,56 milhões de clientes no primeiro trimestre de 2021. Ainda assim, o total verificado atualmente representa 1 milhão de consumidores a mais em relação a antes da pandemia.
Já as receitas da TV por assinatura caíram 10% em comparação a 2019, chegando a € 2 bilhões. A última vez que a televisão sob demanda não atingiu a barreira dos € 2 bilhões na Espanha foi em 2016, embora a tendência então ainda fosse de crescimento sustentado. Isso também é influenciado pela alta dependência de pacotes de telefonia.
Maior tráfego de dados em redes móveis
O relatório do órgão governamental apontou que “o tráfego de dados em redes móveis aumentou mais de 43% em relação ao ano anterior e, embora em 2021 as operadoras de rede já comercializassem serviços móveis por meio de redes 5G, seu tráfego ainda era residual em comparação com 90% do tráfego total gerenciado através de redes 4G”. O desenvolvimento dessas tecnologias é visto como fundamental para o esporte, especialmente para as novas arenas e também em relação às possibilidades de streaming oferecidas pelas novas larguras de banda.
A expectativa é que tais inovações tenham influência direta no negócio da propriedade esportiva e também nos serviços over the top (OTT), de distribuição de conteúdos pela internet, cuja decolagem na Espanha só foi possível graças ao fato de, atualmente, 89% das linhas ativas terem uma velocidade superior a 100 Mbps (banda larga ultrarrápida), cinco pontos a mais do que há um ano.