A Peleja Media, conhecida pela produção audiovisual sobre futebol e seus aspectos culturais, políticos e sociais, lançou um braço de negócios dedicado a pesquisas. A nova frente já entregou estudos para marcas como a Nike, com foco em comportamento de torcidas e tendências de consumo no universo esportivo.
A empresa norte-americana de material esportivo, que será fornecedora de Atlético-MG e Vasco a partir de 2026, encomendou à Peleja um estudo aprofundado sobre as torcidas dos dois clubes.
“Fomos entrevistar o Djonga, que é torcedor fanático do Atlético-MG, que é membro da Galoucura. Fizemos muitas horas de entrevistas, in loco e a distância. Fomos até Minas Gerais e ao Rio de Janeiro conversar com atleticanos e vascaínos”, contou Murilo Megale, cofundador da empresa, à Máquina do Esporte.
O trabalho, que envolveu entrevistas com torcedores influentes, resultou em um relatório extenso, com vídeos e análises qualitativas.
“A ideia era a Nike entender melhor as duas torcidas e os dois clubes na perspectiva da Peleja, para que possam se munir disso em campanhas de marketing, lançamento de camisa e outros tipos de ações”, explicou Megale.
Outra pesquisa recente teve o Google como cliente e curiosamente não teve a ver com o universo esportivo. A Peleja investigou o fenômeno das startups de criação de conteúdo que nasceram no YouTube e mantêm a plataforma como o principal ou um dos principais canais de veiculação de sua produção audiovisual.
“O Google chamou a Peleja para investigar como ocorreu esse salto de qualidade dentro do YouTube. A gente investigou. Foi uma pesquisa gigante, focada apenas no Brasil. Nesse caso específico, não foi uma pesquisa dentro do universo esportivo”, enfatizou.
O trabalho resultou em um documentário de 30 minutos e utilizou o método de imersão característico do Peleja, o canal da empresa no próprio YouTube.
“Temos uma equipe preparada, composta por historiadores e jornalistas. Em alguns projetos, esse grupo já faz pesquisa para nossos conteúdos editoriais”, salientou.

Trajetória
Fundada em 2017 por Megale e Antonio Pacheco, um antigo colega de faculdade, o Peleja surgiu como canal no YouTube. A proposta era ser uma alternativa ao conteúdo humorístico e de desafios dominante no audiovisual esportivo da plataforma.
“Sentia falta de conteúdos mais aprofundados que se conectassem com a paixão e outras camadas do futebol. Era uma época em que o Desimpedidos estava em alta. Faltava conexão com temas mais profundos, com outros significados que o futebol pode trazer para explicar a sociedade”, contou Megale.
Durante a pandemia, embora houvesse limitações sanitárias para a produção de conteúdo, o projeto cresceu em audiência na internet e atraiu marcas interessadas em realizar campanhas em parceria.
“A gente se posicionou de uma maneira que as marcas entenderam que era lugar para buscar conexões além do futebol zoeiro”, explicou.
Hoje, a empresa opera com cerca de 20 funcionários fixos, divididos entre Brasil e Europa, e conta com uma rede de freelancers para projetos maiores.
“Tem vez que tem 30 a 40 pessoas trabalhando conosco. Temos dois tipos de financiamento: projetos com marcas patrocinando e com investimento do próprio Peleja”, revelou.
Bundesliga
Entre as parcerias está a Bundesliga, com contrato permanente para produção de documentários e minidocumentários sobre o futebol alemão.
“A Peleja Media é parceira oficial no Brasil para conteúdos sobre futebol alemão. Não transmitimos jogos, mas temos o direito de uso sobre qualquer imagem de jogo deles”, contou.
No próximo fim de semana, uma equipe da Peleja irá a Hamburgo para produzir um documentário sobre o retorno do time alemão à primeira divisão.
“A Bundesliga chamou o Peleja para produzir um documentário para a audiência brasileira entender melhor sobre o Hamburgo”, explicou.
Em fevereiro, outra equipe do canal viajará a Colônia para abordar o Carnaval local e suas conexões com o futebol alemão.

Premier League e LaLiga
A empresa também faz colaborações esporádicas com outras ligas nacionais importantes da Europa, como Premier League e LaLiga.
Com a liga inglesa, uma das ações foi a produção de um documentário sobre o volante brasileiro Bruno Guimarães, do Newcastle.
“Fomos ao Rio de Janeiro entrevistar a família do Bruno Guimarães. Depois, mostramos para ele o vídeo, em Newcastle. Era uma surpresa. Ninguém da família contou que íamos gravar. Pegamos as reações dele. Foi emocionante”, contou.
Com a LaLiga, a Peleja Media produziu episódios da série “Bairros”, explorando vizinhanças em Villarreal, Bilbao e Sevilla.
“A série investiga bairros futebolísticos pelo mundo. Fizemos documentários em três bairros espanhóis. Foram projetos específicos, com documentários de até 10 minutos”, rememorou Megale.
Fifa+
A Peleja Media também realiza parcerias com o Fifa+, plataforma de streaming da federação que comanda o futebol mundial. Com a Fifa, a ideia é produzir conteúdos audiovisuais mais didáticos, voltados a uma audiência global.
“Fizemos um documentário para a Copa do Mundo de Clubes [disputada entre junho e julho]. Produzimos um minidocumentário, de cerca de cinco minutos, sobre a torcida do Botafogo para apresentá-la ao mundo. Foi veiculado no DAZN [dono dos direitos de transmissão do torneio para todo o mundo] e no Fifa+”, revelou o cofundador do Peleja.
Outro projeto realizado em conjunto com o Fifa+ abordou o futebol feminino em favelas do Rio de Janeiro.
“Fizemos um documentário contando a história de uma menina de uma favela, que joga futebol através de um projeto social que foi criado por um inglês. Esse conteúdo teve patrocínio da Fifa e da Coca-Cola, e também foi veiculado no Fifa+”, destacou.
Chevrolet
Um dos projetos atuais da Peleja é uma série documental sobre coletivos de torcedores autistas, em parceria com a Chevrolet.
“Estamos gravando, neste exato momento, um projeto com a Chevrolet. Estamos viajando o Brasil para contar a história de coletivos de torcedores autistas. Chevrolet e Peleja estão curiosos para entender quem são esses grupos e como foram criados”, comentou.
“Vamos falar de autistas nos estádios, dos desafios enfrentados e se existe estrutura para recebê-los”, completou.
A série terá quatro episódios de dez minutos, com edição no mês que vem e estreia prevista para outubro.
“Nesse caso específico, foi a Chevrolet que nos procurou para propor o projeto. Aí, fizemos uma pesquisa, apresentamos para eles e decidimos fazer”, concluiu.