Amador, March Madness é fenômeno econômico nos EUA

March Madness se firmou como tradição e tem agitado economia dos EUA - Crédito Getty Images

March Madness se firmou como tradição e tem agitado economia dos EUA – Crédito Getty Images

Um torneio com 68 times se enfrentando em partidas de eliminação simples, com menos de um mês de duração e mais de 140 milhões de espectadores. Esta é uma descrição simples do que é o Campeonato Norte-americano de Basquete Universitário da NCAA, mais conhecido como “March Madness”.

Com uma tradição de mais de 75 anos, o “mês da loucura” no basquete é mais do que um simples evento esportivo escolar para os estadunidenses. Crescendo mais a cada ano, o torneio já alcançou o patamar econômico das principais competições esportivas do país, superando os números de ligas como a Major League Baseball (MLB) e a própria National Basketball Association (NBA).

O modo de disputa da competição contribui para a sua grande repercussão. O campeonato reúne 68 universidades: 30 delas campeãs do seu estado, uma campeã entre as universidades da prestigiosa Ivy League e outras 37 convidadas de acordo com sua colocação no ranking da NCAA, entidade que administra o esporte universitário nos Estados Unidos.

Estas se dividem em quatros grupos de acordo com a região geográfica e se enfrentam em eliminatórias de jogo único, até a consagração de um campeão regional.

Os quatro campeões regionais se enfrentam no chamado “Final Four”, último fim de semana de março, disputado em uma única cidade-sede a cada ano. Os vencedores das semifinais se enfrentam no mesmo local sempre dois dias depois.

O nome “Loucura de Março” não é dado à toa ao torneio. O campeonato tem um impacto enorme no público norte-americano, que deixa tudo de lado para assistir as mais de 67 partidas entre universidades. A final de 1992 detém o recorde de espectadores em um única partida: 34,4 milhões, somente nos EUA.

Segundo estudos feitos nos EUA, o “March Madness” movimentou em 2012 mais de US$ 3,5 bilhões de dólares em apostas, sendo que US$ 2,5 bilhões foram envolvidos de maneira ilegal. Estima-se que 58% de toda a população do país participe em ao menos um bolão envolvendo os resultados da competição universitária.

Também já se tornou um consenso público nos EUA que a produtividade dos trabalhadores diminui em março, devido diretamente à disputa do torneio da NCAA. De acordo com pesquisas realizadas no país, 86% dos trabalhadores usa tempo de trabalho para realizar atividades relacionadas ao torneio, enquanto 56% passa ao menos uma hora do seu horário checando os resultados do March Madness e outros 11% chegam a usar até cinco horas.

Outros 6% dos funcionários usam dias de folga ou atestado médico para faltar no trabalho nos dois primeiros dias do torneio. Somente nesse primeiro par de dias, as empresas estadunidenses perdem cerca de US$ 175 milhões com seus funcionários assistindo basquete. Estima-se que o custo total de toda essa loucura possa chegar a US$ 1,8 bilhão para a indústria norte-americana. Devido ao fenômeno, cerca de um terço das empresas já prepara seus computadores para bloquear sites que tenham conteúdo relacionado ao torneio.

Tudo isso só ajuda a valorizar o campeonato e seus competidores. Nos últimos trinta anos, o valor dos direitos de televisão do March Madness passou de US$ 39 milhões em 1982 para US$ 771 milhões em 2011, o que representa um aumento de 1976%. Este o primeiro ano em que todas as 67 partidas foram transmitidas ao vivo na televisão.

A CBS, cadeia detentora dos direitos, pagou às equipes e a NCAA em 2011 aproximadamente US$ 640 milhões para poder exibir a competição. Enquanto isso, o faturamento da emissora apenas com anúncios publicitários superou os US$ 740 milhões neste ano, chegando a US$ 4,85 bilhões na última década.

O valor médio de um comercial de 30 segundos na transmissão da decisão do March Madness chega a ser semelhante ao de eventos como o Super Bowl: US$ 1,25 milhão. Somente a General Electric pagou US$ 58 milhões para ter sua marca associada ao torneio no ano passado. Outras companhias, como At&T, Coca Cola, HP, ABInBev e Nissan também investiram pesado na edição do ano passado.

Com todo esse dinheiro envolvido, as faculdades também não deixam de lucrar. Duke, uma das mais prestigiosas universidades norte-americanas, tanto no “mbito esportivo quanto acadêmico, liderou as arrecadações em 2011, com cerca de US$ 29 milhões.

Como plano para o desenvolvimento do esporte no país por meio das escolas e universidades, o March Madness conta com um sistema de distribuição de lucros que envolve critérios diferentes aos das equipes esportivas profissionais, considerando não somente os resultados em quadra, mas também o programa esportivo das faculdades e até as notas dos jogadores. Especialistas estimam que cada vitória na competição dê um retorno ao time ganhador de cerca de US$ 256 mil, além de outros US$ 240 mil por partida disputada. Ainda assim, os jogadores não recebem salários para jogar, e sim bolsas de estudo, matendo a condição amadora da categoria. 

O March Madness 2013 começa nesta terça, 19, e já tem tudo para parar novamente os Estados Unidos. O torneio, que tem sua final marcada para 8 de abril, em Atlanta, se consolidou como um dos principais eventos e espetáculos dos EUA e movimenta cifras que superam as das ligas profissionais do país. Mais uma mostra de que não há nada de amador nos esporte universitário norte-americano.

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