Análise: Após punir a Rússia, atletismo precisa dar passo adiante

Para muita gente, a punição que a Iaaf (Associação Internacional das Federações de Atletismo) impôs à Rússia serve apenas para responder à maior crise de imagem que a entidade se viu envolvida após denúncias de corrupção contra o ex-presidente Lamine Diack e operação de busca e apreensão da polícia francesa na sede da federação.

É mais do que isso. Punir a Rússia irá atingir também atletas com reputação ilibada, como Yelena Isinbayeva, recordista mundial de salto com vara, que ficará sem pátria para defender naquela que deve ser a última Olimpíada de sua carreira. Mostra que um país que sistematicamente fez vistas grossas ao doping pode passar por essa humilhação.

A Rússia não desarmou a bomba-relógio do uso indiscriminado de drogas para melhoria de performance, feita durante a Guerra Fria, quando as glórias esportivas serviam para fazer propaganda do regime ao mundo. Colhe agora os frutos, com descredenciamento iminente de seu laboratório e fechamento da Rusada (Agência Antidoping Russa).

Outros países, comunistas ou não, fizeram uso de esquemas semelhantes para atingir os mesmos objetivos. Aparentemente, EUA e Alemanha, dois dos principais representantes dessa elite olímpica, têm feito combate mais adequado ao doping.  

Efeitos disso são sentidos atualmente na tabela de recordes do atletismo feminino. Das 23 provas olímpicas das mulheres, 11 contam com recordes mundiais feitos nos anos 80, época em que também competia o atual presidente da Iaaf, Sebastian Coe. Há poucas dúvidas de que essas marcas foram obtidas em um momento em que a luta antidoping corria muitos metros atrás dos fraudadores.

Se quiser recuperar mesmo a imagem do atletismo, Coe deveria retirar mais esse esqueleto do armário. Seria também um incentivo para que as atletas limpas da atualidade pudessem ter o gostinho de conquistar um recorde mundial. 

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