A compra de 20% das ações do Atlético de Madrid pelo empresário chinês Wang Jianlin não surpreende a quem acompanha o desenrolar da crise espanhola. O país viveu um alongado período de recessão de cinco anos, com queda de consumo e de investimentos.
A tímida recuperação em 2014 não esconde um índice ainda alarmante de desemprego, que ronda os 25% e atinge quase 550 mil pessoas. A dívida externa, de € 1,75 trilhão, representa 163% do PIB.
Apesar disso, a chamada Liga das Estrelas permanece como uma das mais acompanhadas pelo planeta. Real Madrid e Barcelona são sempre favoritos na Liga dos Campeões. O derby madrilense, aliás, decidiu o último título continental. A equipe de Cristiano Ronaldo, Bola de Ouro da Fifa, é a atual campeã mundial de clubes.
Já há alguns anos, a solução para o futebol espanhol tem sido a mesma que 700 mil conterrâneos tentaram durante a crise: o aeroporto. E, no caso dos clubes, o grande mecenas tem sido a Ásia.
Dos 20 clubes da elite espanhola, dez são patrocinados por empresas de lá, incluindo Barcelona (Qatar Airways), Real Madrid (Emirates e International Petroleum Investment Company) e Atlético de Madrid (governo do Azerbaijão e Huawei). Investidores asiáticos eliminaram os intermediários, e já compraram dois times da primeira divisão: Málaga e Valencia. O Atlético de Madrid segue essa toada.
Mas o que leva esses grupos a investirem na Espanha e não em seus próprios países? Um valor que nenhum país asiático tem condições de exibir nos gramados: tradição. Mesmo para empresas que apoiam clubes menores, sem chance de títulos, é interessante a visibilidade do Campeonato Espanhol e a conquista de um reconhecimento de marca em nível global.
Os clubes, por sua vez, lucram com contratos capazes de manter supertimes. Na última temporada, Real Madrid (€ 550 milhões) e Barcelona (€ 541 milhões) foram os clubes com maior faturamento no mundo. Uma ilha da fantasia de Messi e CR7 cercada por miséria e desemprego por todos os lados.
Por sua própria tradição, o futebol espanhol criou uma bela jogada para driblar a crise. Resta ao país que o abriga forjar um caminho parecido para a economia.