Antes que alguém atire a primeira pedra e exalte (com razão) a qualidade técnica dos times europeus, faço uma provocação: além do brasileiro, qual outro campeonato teve seis campeões diferentes nos últimos 10 anos?
Ponto pra quem pensou na Libertadores, que teve 10 campeões diferentes, um por ano! Este equilíbrio sul-americano transcende qualquer esforço da Conmebol, CBF ou associação de clubes. Ter um torneio equilibrado eleva o interesse dos torcedores de diversos times, esperançosos com um título e dispostos a abrir sua carteira para acompanhar os jogos ao vivo.
As grandes ligas americanas, como a NBA, organizaram o draft para buscar o equilíbrio, reforçando os times mais fracos para a temporada seguinte. O modelo sul-americano tem duas razões bem distintas: temos um celeiro quase inacabável de bons jogadores, e os nossos clubes têm administrações que podem ser classificadas como ”modelo a ser seguido” nos quesitos “fora técnico, fora presidente, fora todo mundo”, cheio de mudanças bruscas e irresponsáveis.
Entender o celeiro é simples: o futebol é, disparadamente, o esporte favorito e praticado por nove entre 10 meninos, e novos garotos precisam brotar em todos os clubes. Quando o time encaixa e ganha títulos, com o espaço deixado pelo êxodo de jovens rumo ao exterior, abrem-se novos espaços. Quando o time vai mal, jogadores são dispensados e opções econômicas surgem justamente com os mais jovens.
Já o ciclo das administrações dos clubes é mais difícil de explicar. Pegando o exemplo do Palmeiras, o time sofreu dois rebaixamentos e muita turbulência política até entrar nos eixos e virar benchmark. Enquanto São Paulo e Corinthians disputavam quem teria o estádio da abertura da Copa, o Palmeiras fez um excelente acordo para transformação do antigo Parque Antarctica no moderno Allianz Parque. Além disso, teve um presidente que financiou sua dívida, contratou bons jogadores, conquistou um patrocinador que entendeu o tamanho da exposição que teria se o time se tornasse muito forte e, misturando tudo isso, conseguiu resgatar o orgulho dos seus torcedores, que vêm lotando seu estádio mesmo com preços de ingressos bem acima dos demais times, num círculo virtuoso.
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O exemplo palmeirense deveria ser seguido por todos os clubes, certo?
O problema é que os possíveis R$ 70 milhões de bilheteria têm relação direta com o desempenho dentro de campo. Com uma torcida de tamanho semelhante, o São Paulo, em sua luta contra o rebaixamento em 2017, lotava o estádio com ingressos a preços baixos. Com a liderança do brasileirão, o ingresso médio do Tricolor paulista alcançou R$ 40, algo impensável no ano passado.
Mesmo a seleção brasileira penou no início das eliminatórias, com tíquete médio de R$ 69, até alcançar impressionantes R$ 368 no último jogo com o time fazendo grande campanha nas mãos do técnico Tite.
Se temos um campeonato equilibrado, torcedores apaixonados e o Palmeiras tem bom desempenho dentro de campo, qual o limite para a arrecadação?
Ainda falta um fator muito importante e pouco explorado no Brasil: a “experiência” do torcedor. Algo que fez um ingresso da final da Copa de 2014 ser vendido por R$ 2 mil na arquibancada do Maracanã, ou ainda que faz o tíquete médio do Super Bowl alcançar impensáveis US$ 5.680 (ou R$ 23 mil por ingresso)!
Mas este é um tema para outra coluna.
* David Pinski é executivo de marketing