O Brasil é a segunda potência militar do planeta. Calma, você não leu errado. Ao menos no esporte, os brasileiros asseguraram a vice-liderança no quadro de medalhas dos Jogos Mundiais Militares, encerrados no último domingo, na Coreia do Sul.
À frente dos brazucas, só a Rússia, uma notória potência no esporte e na caserna. Atrás do Brasil, nações que estão na elite das arenas e dos campos de batalha, como EUA e China.
Lá sim, os atletas nacionais puderam prestar sua continência em paz, sem despertar maiores polêmicaa. De fato, é um ambiente adequado a esse tipo de manifestação. Não no Pan ou na Olimpíada, eventos civis.
Assim como nos conflitos armados pelo mundo, o Brasil não se destacava nos Jogos Militares, evento surgido há 20 anos, na Itália. Tudo mudou com a edição de 2011, no Rio de Janeiro.
Na ocasião, as Forças Armadas arregimentaram às pressas uma série de atletas para integrar suas fileiras. Em troca de salário e benefícios, os esportistas tinham que defender o país não na guerra, mas no esporte.
A estratégia deu resultado. Em casa, o Brasil liderou a classificação, amealhando 114 medalhas, um aumento de 470% em relação ao que havia conquistado nas quatro edições anteriores somadas.
Segundo cálculos, quase 90% dos brasileiros que estiveram nos Jogos Militares-15 devem ir aos Jogos do Rio-16. Para isso, o Ministério do Esporte investiu R$ 123 milhões na reforma de instalações esportivas militares. Mais R$ 40 milhões, cobertos pelas pastas de Esporte e Defesa, serão gastos com salários.
Diante desse quadro, creio que é necessário levantar algumas questões.
Será que é um bom negócio vincular a elite do esporte nacional aos quartéis em um país com tão triste memória de um período militar recente?
É realmente interessante à imagem do Brasil se passar por um país militarista em eventos esportivos no exterior para uma recém-adulta democracia restaurada há só 30 anos?
E, por outro lado, até que ponto fere os valores do próprio esporte enviar uma delegação de estrelas, sem qualquer carreira na caserna, para disputar uma competição estritamente militar?
É tarefa do governo, sem dúvida, incentivar e desenvolver as diversas modalidades olímpicas. Mas não me parece que Exército, Marinha e Aeronáutica sejam o palco adequado para colocar esse projeto em prática.