Análise: Brasil, enfim, chega à década de 1990

No começo dos anos 90, o Manchester United iniciou uma revolução no mercado europeu de futebol ao assumir a própria gestão de produtos licenciados. A lógica do clube era simples. Não havia ninguém mais qualificado do que ele próprio para gerenciar todos os detalhes alusivos a sua marca.

O movimento do United foi um dos principais responsáveis por fazer o clube saltar para o topo da lista dos clubes mais ricos do mundo, mesmo sendo de uma cidade menor da Inglaterra e tendo uma base de torcedores relativamente pequena quando comparada a clubes como Real Madrid, Barcelona, Milan, etc. 

O sucesso do clube levou outros europeus e a própria Uefa a adotarem as mesmas medidas ao longo da década e começo dos anos 2000. O resultado é visto agora, com o futebol da Europa como objeto de desejo. Dos fãs, dos atletas e da mídia.

No Brasil, desde sempre os clubes não conseguiram olhar para o licenciamento com a devida atenção. As justificativas para isso são quase sempre as mesmas. Não há volume de vendas que obrigue a isso ou, então, não há motivo para um esforço desse tamanho, já que o foco é o futebol.

Por trás disso existe, também, o velho problema do fluxo de caixa. Muitas vezes, as empresas que assumem a gestão do licenciamento pagam à vista pelo direito de explorar a marca do clube. Sem grana para fechar o mês, o time aceita entregar esse direito em troca do alívio financeiro da hora.

Por isso, a decisão corintiana de assumir a própria gestão do licenciamento é um marco para o futebol nacional. Com quase 30 anos de atraso, um clube tenta trazer para dentro de casa aquilo que é o seu maior tesouro: o cuidado com sua marca. 

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Para o plano dar certo, duas coisas precisam acontecer. A primeira delas é a estruturação de um departamento fixo para controlar isso, sem mudança a cada troca de comando na gestão do clube. A outra é o Corinthians ter fôlego financeiro para poder manter esse departamento estruturado e em atividade até começar a gerar lucros.

Infelizmente esses dois itens, tão essenciais para levar a um patamar um pouco mais profissional a gestão do futebol no país, são praticamente utópicos dentro da nossa realidade há muito mais do que 30 anos. É preciso ver até quando o Corinthians conseguirá ter estrutura para manter essa ideia. Provavelmente, a próxima gestão que for assumir o clube vai dizer que há um inchaço no corpo de funcionários e terceirizará novamente o licenciamento. Se não, o Brasil, enfim, chegará aos anos 90.

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