Análise: Brasil precisa rever conceito de torcida

O tamanho de uma torcida ou a popularidade de uma modalidade esportiva sempre foram usados pelo Brasil como métrica mais eficiente para determinar o valor dado a uma propriedade esportiva. Flamengo e Corinthians, futebol e vôlei, respectivamente, foram os maiores beneficiados desse tipo de análise para receber verbas mais polpudas no universo esportivo brasileiro.

O problema, porém, é que o conceito de torcida que utilizamos segue uma lógica que vem sendo cada vez mais abandonada pelo mercado, que é a do potencial de alcance de uma ação. O conceito de se usar o tamanho da torcida para mensurar o quanto se pagar pelo patrocínio seguia a lógica do anúncio na televisão. Quanto maior a audiência do programa, mais caro se tornaria a publicidade nele inserida.

Só que o mundo tem mudado bruscamente e de forma acelerada. Aos poucos, as empresas entendem que não adianta mais ter a maior verba alocada no maior canal se isso não tiver sentido comercial. A mesma lógica precisa urgentemente começar a ser aplicada no universo esportivo.

Em vez da análise do tamanho do público, é preciso começar a estudar qual é o público. Os clubes se vangloriam dos tamanhos de suas torcidas, mas raramente sabem qual é, de fato, o seu torcedor.

Uma mostra disso está na aposta dos bancos digitais em parcerias com os clubes. Como revela o Banco Inter, o melhor negócio com o São Paulo não foi a captação de novos clientes, mas a utilização da mídia off-line do esporte para dar credibilidade ao projeto do banco. E essa percepção é o que talvez tenha faltado para os novos acordos assinados por Corinthians e Cruzeiro, que bateram demais na tecla da força da torcida para gerar mais dinheiro para o clube, mas que esbarram em várias questões:

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Qual é o potencial de consumo do torcedor? Qual torcedor está disposto a trocar de banco para ajudar o clube? De que forma é possível emplacar novos negócios para uma massa de torcedores que simplesmente são desconhecidos do clube?

O maior salto que o futebol inglês deu no mundo foi o de aplicar conceitos básicos de conhecimento do consumidor para as suas torcidas. Os times, hoje, atuam em operações de big data para conhecer melhor quem são e onde estão seus fãs.

Por aqui, ainda nos contentamos com uma medição genérica e quantitativa de quem é o fã do esporte. Enquanto isso não mudar, continuaremos a ficar distantes de uma nova realidade para o esporte e para seu público dentro do país.

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