O Brasil tem muito o que aprender sobre futebol com a Bélgica. Assumir isso não é diminuir os méritos que a seleção brasileira conquistou em um século, mas compreender que existem modos mais profissionais e, por consequência, mais efetivos de administrar o futebol. E poucos países sabem tão bem sobre isso quanto o adversário desta sexta-feira (6).
Essa, por sinal, será a segunda oportunidade seguida de o Brasil absorver algumas das metodologias belgas. Isso porque o país que mais tem usado o modo de a Bélgica enxergar o futebol é a Alemanha, que derrotou a seleção brasileira em 2014.
Neste século, os alemães têm a mesma metodologia para o futebol de base dos belgas, além de adotarem as iniciativas semelhantes ao país vizinho para gestão do esporte em geral, com visões mais próximas do que é o trato com o torcedor.
O problema é que o Brasil, puxado pela administração da CBF, tem refutado esse tipo de evolução. O maior exemplo está na recusa da entidade ao modelo aplicado pela Double Pass, em 2015. A companhia belga é a responsável pela metodologia de futebol de base da Bélgica e da Alemanha, que resultaram no atual momento de ambas as seleções. Segundo foi vazado na imprensa, a comissão técnica da seleção brasileira da época, formada por Dunga e Gilmar Rinaldi, menosprezou o serviço da empresa.
Fundamentalmente, o que busca a Double Pass é uma padronização nas categorias de base de um país. A empresa tem uma metodologia de treinos e um nível de estrutura que uma confederação possa colocar como espelho aos clubes filiados. A recuperação da seleção alemã e a tal da “ótima geração belga”, em um período inferior a duas décadas, são provas da efetividade do trabalho.
Não é, claro, o único método e não necessariamente o melhor para se aplicar no Brasil. Mas isso não significa que o país não tenha que criar uma estrutura mais sólida e profissional para seus atletas profissionais e aspirantes a profissionais. Com enorme capacidade de revelar talentos e contínua rejeição a trabalhos de longo prazo, o país acaba por ficar muito aquém do verdadeiro potencial, o que é refletido em toda a indústria do esporte do país.
Historicamente, no futebol, grandes derrotas geram grandes mudanças. A passividade da CBF com o “7 a 1” irrita mais do que o resultado em si. A Bélgica não deve vencer a forte seleção brasileira na sexta-feira, mas quem sabe dessa vez, ao ver o nível do time formado em um país de 11 milhões de habitantes, algumas coisas possam ser pensadas por aqui.