O tema flutua na gestão do futebol brasileiro, com maior e menor intensidade. No fim, os números se mantêm: o calendário do esporte no país é absurdamente cheio. Isso prejudica demais o produto e o apelo ao torcedor. O assunto precisa voltar a ser tratado como prioridade.
O novo presidente da CBF, Rogério Caboclo, até fez menção ao tema. O mandatário quer tirar mais duas datas dos campeonatos estaduais, principais vilões do calendário, em 2020. Mas, para times que chegam a 80 datas ao longo do ano, duas partidas não parecem significativas. Especialmente se for o campeão brasileiro ou da Copa do Brasil. Nesse caso, com a recém-criada Supercopa do Brasil, haverá apenas uma data a menos. Ou seja, um esforço que hoje não resulta em nada.
Para quem tem dúvida sobre a importância da questão, o próprio Campeonato Estadual exemplificou. Um levantamento da “Folha de S.Paulo” mostrou a evolução do público no Campeonato Paulista. Até 2013, o time finalista jogava 23 vezes. O número caiu para 18 vezes, como foi o caso deste ano. Cinco datas a menos e a média de público dobrou: foi de 5,7 mil para quase 11 mil nesta temporada.
Curiosamente, a liga esportiva de maior média de público do mundo, a NFL, é de tiro curto: os times jogam no máximo 20 vezes. No futebol, o torneio com a maior média é um dos poucos entre os grandes a ter apenas 18 times. Na Bundesliga, o clube joga 34 vezes, e o público médio é superior a 40 mil pessoas.
Obviamente, o número limitado de datas não é o único fator para explicar o sucesso de público dos torneios. Mas é fato que o excesso engasga os torcedores no Brasil, especialmente com os ingressos mais caros. Por mais complexo que seja diminuir uma temporada, comercialmente é uma tragédia fazer de uma partida um evento completamente rotineiro. O mínimo de exclusividade é necessário.
No Brasil, o excesso de jogos ainda rende verdadeiras aberrações. Os times de melhores elencos serão punidos neste ano com as convocações de seus craques para a Copa América. O fato já é tão comum no Brasil que não indigna mais times e torcedores. Na última Copa do Mundo, o país teve jogo 12 horas antes do início do torneio. Foi o único entre os 32 participantes a não ter pelo menos uma semana de folga no calendário, segundo levantamento do “Lance!”. É surreal. O assunto precisa voltar a ser pauta no processo de profissionalização do esporte nacional.