Nas semanas que antecederam a Copa do Mundo, havia no Brasil uma enorme desconfiança: pesquisas indicavam menor interesse do brasileiro no Mundial, e diversas reportagens mostraram o comércio menos aceso em relação a eventos anteriores. Mas, pelos números dessa semana, ficou evidente que o torcedor está bastante ligado nos jogos.
Na audiência geral da Copa do Mundo, está clara a ausência do tal desinteresse. Nas redes sociais, a mesma coisa. E na hora que o Brasil entrou em campo, ficou explícito que há um grito entalado, há uma enorme vontade de torcer, de participar ativamente de mais uma Copa.
Assistir à Copa do Mundo dentro do armário, sem bandeira e sem dar pinta, indica que, acima de tudo, o torcedor está constrangido. Um constrangimento que passa pela bagunça resultante no 7 a 1 de 2014, pelos escândalos sem fim que envolveram o Mundial no Brasil, pelos dirigentes presos ao redor do mundo. E que termina, claro, na lamentável situação política vivida pelo país. No fim das contas, é difícil imaginar como poderia ser diferente.
Esse talvez tenha sido o legado mais perverso das décadas de perversidades cometidas pela alta cúpula da CBF. A maior entidade do futebol nacional conseguiu suprimir aquela que sempre foi a maior alegria do brasileiro. Mais do que isso, o maior orgulho. O futebol foi o Brasil que dá certo; hoje, é espelho de tudo o que dá errado.
Neste exato momento, quem deveria cuidar disso é um tal de Coronel Nunes, que segundo a imprensa na Rússia tem sido escondido pelos dirigentes do futebol mundial, após mudar de última hora o voto para a Copa do Mundo de 2026, sabe-se lá por qual motivo. Colocado na CBF para driblar o estatuto e manter o poder nas mãos de Marco Polo Del Nero, o atual presidente da confederação brasileira é uma máquina de passar vergonha.
A recuperação de imagem da CBF é um grande mistério. Se alguém minimamente comprometido com o futebol assumir a entidade em algum momento, terá que fazer dessa a prioridade. O quanto terá de êxito em curto período é difícil dizer. Para o mercado, certamente será necessário bastante tempo.
Para o torcedor, por outro lado, talvez nem tanto. Primeiro porque a tragédia não é completa, graças ao esforço de alguns que trabalham na CBF; o Canarinho Pistola é um bom exemplo disso. Mas, principalmente, porque o torcedor claramente se importa muito com a seleção; ele só precisa de um terreno minimamente confortável para pintar a rua e levantar a sua bandeira.