Análise: Clubes ignoram valor do mando de campo

Desta vez, foi o Vasco, mas a prática é recorrente. Clubes de futebol do país são viciados em ignorar o seu principal produto: o mando de campo. É o evento realizado pelo time que deveria, sempre, estar no topo de prioridades. É lá que a TV tem o que transmitir, o patrocinador tem o que mostrar e, claro, o torcedor tem o que assistir. Por que esse desdém recorrente?

Para a partida contra o Corinthians, no último domingo (29), o Vasco resolveu vender o mando de campo para uma agência. O encontro, realizado em Brasília, teve um pouco mais de 30 mil pessoas, com uma renda de R$ 1,8 milhão. Ainda que esportivamente não tenha sido efetivo, não deveria haver problema em um time passar um jogo para um estádio de Copa do Mundo. Mas as dificuldades foram excessivas.

O problema foi o total descuido do Vasco com a agência que organizou a partida, um erro que outros times já cometeram. Inclusive o rival Corinthians. Segundo a ESPN, para economizar R$ 500 em um técnico de som, o auditório de imprensa não foi aberto. As coletivas para os jornalistas foram feitas no improviso, nos corredores da arena que custou quase R$ 2 bilhões. Segundo o Globoesporte.com, por motivos semelhantes, a bilheteria oficial também não foi usada. Para fechar com chave de ouro, um funcionário do Vasco tentou impedir que Romero levasse a bola da partida, como manda a tradição para quem marcou três gols no jogo.

Parece óbvio, mas, aparentemente, não é: o produto de um time de futebol é o jogo. Se ele acontece em um estádio antigo e acanhado, o clube tem que se esforçar para que o gramado esteja aparado e o banheiro esteja limpinho. Se acontece em uma arena de Copa do Mundo, tem que se esforçar para o telão estar cristalino.

Como viver desse segmento se há a ideia de que repassar o seu principal produto a qualquer um, por uma verba momentânea, é razoável? Parece que, muitas vezes, exige-se um nível alto de profissionalismo a um grupo de clubes/empresas que não sabem nem o que estão vendendo. É difícil de compreender os resquícios de várzea.

Um clube de futebol tem uma complexidade própria: possui três grupos de clientes. Gerenciar isso exige um grupo profissionalizado. Mas há uma vantagem nesse cenário: os três se encontram na partida de futebol. Oferecer condições de trabalho dignas às televisões, entrega máxima aos patrocinadores e o mínimo de conforto aos torcedores não podem mais ser artigo de luxo no futebol brasileiro.

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