Em 2016, o Fortaleza resolveu se juntar ao projeto do Esporte Interativo para a transmissão do Campeonato Brasileiro, com acordo entre 2019 e 2024. À época, o time disputava a Série C do torneio, mas, com foco em uma receita maior, resolveu abraçar um contrato para algumas temporadas depois. Agora, no primeiro ano de parceria, a equipe resolveu protestar publicamente.
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É uma tendência do futebol brasileiro. As equipes não conseguem se sentar em uma mesa para fechar um acordo em conjunto. Depois, lutam contra si mesmas pelos acordos assinados. O Fortaleza não está sozinho nessa estratégia estranha. Em 2015, por exemplo, o Fluminense se mostrou revoltado publicamente com as diferenças entre as cotas de TV dos clubes. Em 2011, a equipe foi uma das primeiras a romper com o Clube dos 13. Uma situação parecida com a do Palmeiras neste ano, que ficou em uma longa disputa com a Globo.
É o que resta quando se luta sozinho: se contorcer por acordos já fechados. O problema é que, quando se briga com os próprios parceiros, o futebol reforça a condição de mercado pouco profissional.
O protesto do Fortaleza foi um festival de desrespeito. Com a Turner, que acertou esse acordo quando o time disputava a Série C, com os patrocinadores do time, que perderam exposição, e até com a Globo, dona dos direitos na rede aberta, que conviveu com imagens um tanto fora do contexto do futebol.
Essas brigas públicas, aliás, transformaram a própria Globo em vilã para muitos torcedores. O ato do Palmeiras, por exemplo, foi visto como uma resistência à força da emissora. Ignora-se, no entanto, que a empresa é, com muitas sobras, a maior investidora do esporte no Brasil. E que ela não tem nada a ver com o modo como os clubes negociam seus contratos. Ao contrário: para ela seria muito mais simples fechar um único acordo com uma liga que coordenasse o Campeonato Brasileiro.
O que mais impressiona é o esforço sem fim que os clubes gastam nesses protestos contra si mesmos, sem colocar uma única gota de suor para se unirem. A negociação em conjunto com as emissoras melhoraria as desigualdades e a própria distribuição do conteúdo, sem a bizarrice de partidas sem exibição em canal fechado, como acontece neste ano e acontecerá nos próximos. Seria um caminho comercial maduro, trilhado por qualquer mercado minimamente desenvolvido. Mas, para isso, não se veem protestos em campo nem presidente falando grosso. É difícil de entender.