Teoricamente, a realização dos Jogos Olímpicos tem como um dos principais legados o desenvolvimento do esporte no país onde o evento é realizado. Hoje, a três meses para o Rio 2016, já dá para dizer que esse não será o caso do Brasil. É um dos muitos tentáculos perversos da tenebrosa crise política vivida pelo país.
Com Leonardo Picciani no comando do Ministério do Esporte, só há uma certeza: o senso de continuidade, que costuma ser inexistente no país, já foi ignorado. O novo ministro dispensou Ricardo Leyser da secretaria executiva da pasta. Leyser esteve diretamente ligado aos Jogos Olímpicos nos últimos anos.
Não que as antigas gestões, entre representantes do PCdoB e George Hilton, tenham feito brilhantes trabalhos. A insistência da concentração no alto rendimento e na neurose por medir o sucesso do Rio 2016 em número de medalhas sempre foi um indicativo que o legado dos Jogos Olímpicos não seria uma política esportiva consistente.
Mas, agora, nem espaço para discussão haverá. Primeiro porque Leonardo Picciani faz parte de um governo provisório. E segundo porque a crise do Brasil, política e econômica, não será o ambiente mais oportuno para colocar o esporte em evidência.
E, após os Jogos, é possível que Ministério do Esporte nem exista mais, assim como foi feito com o Ministério da Cultura. E em 2019, no próximo governo, Rio 2016 já será apenas parte da História.
Em resumo, a poucos dias para os Jogos, ninguém está de fato pensando no esporte como uma ferramenta de transformação social, de educação, de saúde. Será uma das mais dolorosas heranças da crise.