O futebol é um negócio interessante. O poder apaixonante da bola é capaz de produzir milagres. A Croácia que o diga! Um país com 4 milhões de pessoas, menos de 25 anos de história independente e que já esteve duas vezes entre as quatro melhores seleções de futebol do mundo. Agora, os croatas chegaram à improvável decisão da Copa do Mundo. E isso traz um enorme impacto para um país que vive à sombra dos milionários da Europa.
A realidade croata é dura. Um país que ainda vive os reflexos de uma guerra de quatro anos para a independência após o fim do comunismo. Uma economia que tenta se firmar em meio a uma Europa também em recuperação após dez anos de uma quebra monumental. Um país desacreditado pelos próprios jovens croatas, que não querem viver na necessidade de servir a um turista endinheirado do ocidente.
A Copa de 2018 pode exercer um poderoso efeito para o orgulho croata. Num momento em que a economia derrapa, que o jovem não vê perspectiva no país, e que o sentimento ultranacionalista começa a querer crescer, ter o time campeão do mundo pode fazer toda a diferença.
Atualmente, o país vive um conflito interno enorme. A Croácia tem 11% de taxa de desemprego. Mas 2.700 vagas disponíveis para trabalhadores no setor do turismo e tantas outras no de construção.
O problema é que não há praticamente mais jovens no país. Desde 2013, quando a Croácia passou a fazer parte da União Europeia, os mais jovens migraram para outras nações do continente, especialmente Alemanha, Áustria e Irlanda. A própria seleção croata mostra isso. O futebol dentro do país não é atrativo. Modric, Rakitic e Mandzukic são astros de Real Madrid, Barcelona e Juventus.
Não por acaso, os políticos assumiram uma posição de destaque no país desde que a Croácia começou a ir mais longe nesta Copa. Povo apaixonado pelo futebol, o croata vê em sua seleção uma forma de acreditar que é possível ter sucesso mundial.
O futebol consegue ter esse poder. Ele é capaz de pegar uma nação desacreditada e fazê-la crer no impossível a partir de uma Copa do Mundo. Não é preciso ter os melhores índices de educação, saúde e segurança para ser o melhor do mundo da bola. Mas é possível extrair, da competição nos campos, os exemplos necessários para transformar a realidade de uma nação. A Croácia mostra um pouco desse poder que o futebol pode exercer sobre a população. Ainda mais se ela for apaixonada pela bola.