Não há justificativa plausível para a iniciativa da Uefa de levar a final do segundo torneio mais importante da Europa, a Liga Europa, para o Azerbaijão. As consequências nada agradáveis puderam ser vistas nas polêmicas mais recentes. Ao decidir por Baku, a entidade resolveu dar um golpe no futebol: ignorou torcedores e patrocinadores pelo dinheiro recebido do país.
Se alguém tem dúvida sobre a ciência do erro, vale a lembrança de que Baku foi anunciada como sede apenas duas semanas após a revelação do escândalo chamado de “lavanderia” sobre o Azerbaijão. Um grupo de jornalistas, de vários jornais europeus, mostrou em setembro de 2017 que o país mantinha um esquema para limpar a imagem da região. Foram gastos quase US$ 3 bilhões na compra de políticos, jornalistas e lobistas do Velho Continente, além da compra de bens de luxo.
No comando do país desde 2003 está Ilham Aliyev, vencedor da última eleição com mais de 86% dos votos. Ele sucedeu o próprio pai, Heydar Aliyev, que estava no poder havia uma década. A dinastia é mantida graças ao controle estatal das amplas reservas de petróleo do Azerbaijão.
O avanço do país dentro da Uefa, com o desejo de receber a Liga dos Campeões, não chega a ser uma novidade. Entre os investimentos do Azerbaijão para mudar a imagem, o segmento esportivo está presente, seja com a realização da Fórmula 1 no país desde 2016 ou com o patrocínio ao Atlético de Madrid, fundamental para o crescimento do time nos últimos anos.
A Uefa parece ter caído no conto de fadas criado pelo país, mesmo em um momento em que já era conhecida a intenção dos políticos locais, interessados em ofuscar a perseguição a jornalistas e as violações aos direitos humanos. Mas não deixa de ser surpreendente o tamanho do erro, o quanto a Uefa jogou contra o próprio produto.
Algumas consequências são surreais. A primeira delas, claro, é o afastamento dos torcedores dos times, impossibilitados de chegar a Baku. O aeroporto não comporta o grande número de pessoas, e os hotéis, de tão escassos, chegam a cobrar mil libras a diária. Os patrocinadores, também irritados, têm deixado a final em segundo plano.
No fim, a decisão da Uefa parece ter reforçado a condição de segundo escalão da Liga Europa, um pesadelo para a sustentabilidade de qualquer produto esportivo.
Final única pode ter algumas vantagens comerciais, mas apenas se seguir o caminho óbvio, com uma cidade bem estruturada, de preferência central e, claro, amigável.