Análise: Dinheiro não pode comprar tudo no esporte

Para o bem do handebol, a França conquistou, no último domingo, o título do Mundial do Qatar. Aparentemente, o título francês, o quinto da história, daria uma ideia de mesmice.

De fato, pela primeira vez na história, uma nação não europeia havia atingido a final masculina. O Qatar, time da casa, poderia representar uma façanha tão imensa quanto a da seleção brasileira, que conquistou o Mundial feminino há dois anos.

Entre os homens, esse esporte, nascido na Alemanha e ridicularizado nos Estados Unidos, nunca se desenvolveu efetivamente nos demais continentes. Pensando nisso, a vitória qatari seria uma revolução.

Mas não era.

Sem tradição alguma na modalidade, a ideia do Comitê Organizador era, mesmo assim, ser um dos protagonistas do torneio. Para isso, montou um time competitivo, formado por uma legião estrangeira de jogadores sem quaisquer ligações culturais ou afetivas com o país do Oriente Médio.  

 

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Entre os 16 integrantes da seleção havia três montenegrinos, dois bósnios, um cubano, um egípcio, um espanhol, um francês, um iraniano, um sírio, um tunisiano… Ah, e quatro qataris, que invariavelmente esquentavam o banco de reservas. Para dirigir esse catadão multinacional, foi contratado um espanhol, Valero Rivera, campeão mundial há dois anos dirigindo sua seleção nacional.

Todos muito bem remunerados para defender o país. A cada vitória, um bicho de R$ 275 mil. Pelo título, mais uma bolada de R$ 12,75 milhões para ser dividido entre os jogadores. 

 Como o país não possuía ligação alguma com o esporte até recentemente, foi contratada até uma torcida mercenária, formada por 60 espanhóis, escolhidos a dedo entre os integrantes das principais organizadas da Asobal, a liga profissional do país.

Encantada com os petrodólares e ginásios suntuosos, a Federação Internacional de Handebol fez vistas grossas a essa tentativa acintosa de comprar uma glória esportiva.

Esse reino da fantasia no deserto seria coroado com o título mundial. Felizmente isso não aconteceu. A França venceu, chegou ao penta, e tornou-se a seleção com mais troféus na história do torneio.

Atletismo, futebol, levantamento de peso, lutas, polo aquático, tênis de mesa. A farra das naturalizações tem atingido diversas modalidades olímpicas. Por ora, as federações internacionais festejam a ‘expansão mundial’, não cobram investimento de base e empurram com a barriga o problema. A vitória da França é um alento. Mas a seleção do Qatar é alerta para que tais abusos não desfigurem o esporte.

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