Entre as seis maiores maratonas do mundo, as chamadas World Marathon Majors, já estive presente em duas. Em Boston, de 600 mil habitantes, e em Berlim, capital alemã de quase 4 milhões de pessoas. Ainda que o clima de ambas tenha sido muito bom, o envolvimento da cidade americana torna o evento diferente: o local respira a disputa, e todos param para acompanhar a corrida.
Não que Boston seja uma cidade provinciana, sem estrutura. E tampouco é carente de eventos de entretenimento. No esporte, por exemplo, o local carrega os atuais títulos do beisebol e do futebol americano. Mas há um espírito de município menor, com moradores mais orgulhosos. E isso faz da Maratona um grande evento. Dizem que, durante a corrida, o bostoniano só faz duas coisas: ou assiste à prova ou corre.
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Mesmo se tratando de uma cidade rica, Boston pode servir de exemplo para locais que estão fora dos grandes centros: é possível receber um evento esportivo de maior porte. Se realizado com competência, ele pode ser mais atrativo e render muito dinheiro à região envolvida.
Quando há um grande envolvimento de uma região no evento, ele consegue ficar menos dependente de grandes ações de patrocinadores e de organizadores. Em Boston, elas existem, claro. A corrida tem até uma “fan fest” em um ponto central da cidade, com diversas atrações para os corredores e os turistas. Mas não é nada de outro mundo, nada que as grandes provas realizadas no Brasil não tenham também ampla capacidade de realizar.
Esse maior envolvimento de todos com a corrida não aconteceu de uma hora para outra. A Maratona de Boston é a mais antiga do mundo; neste ano, o evento chegou à 123ª edição. Nesse período, houve fatos históricos para o esporte, como a participação de Kathrine Switzer em 1967, quase arrancada da rua por ser mulher. E, claro, o atentado de 2013, que uniu ainda mais a cidade pelo evento. Além disso, a disputa ganhou grande importância esportiva. Hoje, a premiação chega a US$ 1 milhão, o que a afasta da realidade da maioria das provas de corrida pelo mundo.
Não significa, no entanto, que seja impossível gerar um grande engajamento em curto prazo, especialmente em uma cidade mais carente de grandes eventos. No Brasil, as grandes provas ainda são concentradas nas principais capitais, mas talvez a escolha de cidades menores seja um próximo passo a ser considerado. Uma prova bem organizada pode triunfar em locais que gerem maior interesse do público.