Análise: Esporte precisa adotar as causas

É interessante notar como o esporte de uma maneira geral (principalmente o futebol) tem adotado uma postura mais crítica em relação a algumas causas no Brasil. Nesta quarta-feira, feriado de 20 de novembro, o debate sobre o racismo foi colocado em evidência na celebração do Dia da Consciência Negra.

Diversos clubes, como Atlético-MG e São Paulo, fizeram vídeos sobre o racismo, autoproclamando-se lugares democráticos, para todos, sem preconceitos e contra preconceituosos. A ação, por menor que seja, já ajuda no trabalho de tentar conscientizar o torcedor sobre o tema. É fundamental, porém, que o clube não caia no erro de adotar o discurso de uma causa apenas nas efemérides que colocam o tema em evidência, geram curtidas e compartilhamentos e, no final das contas, ficam por isso mesmo. Uma ação pontual entre várias outras que vão ocupar a timeline das nossas redes sociais, mas não nossa sociedade.

O principal trabalho evolutivo que o marketing das grandes empresas tem feito nos últimos anos é entender o papel social das marcas que viraram objeto de desejo das pessoas. E, nesse contexto, as marcas entenderam algo que o esporte tinha basicamente como intrínseco à sua existência. É preciso ser democrático, plural, abraçar todos os temas e pessoas sem preconceito.

O marketing de causa é o xodó da atual geração de marqueteiros, que usa a iniciativa como meio de construir laços com o consumidor e, ao mesmo tempo, entregar valor para a empresa na sociedade.

Com um poder muito maior de engajamento e convencimento, o esporte tem demorado demais para colocar o time em campo em relação às causas. O Bahia talvez seja a única exceção. Recentemente, o clube ganhou projeção mundial ao fazer a camisa manchada em alusão ao vazamento de petróleo. A iniciativa foi apenas mais uma entre as dezenas que têm sido feitas ao longo dos últimos anos, o que tem elevado o patamar de reconhecimento e admiração do clube aos olhos da população.

Para adotar uma causa, porém, é fundamental que o clube tenha aquilo como uma verdade da porta para dentro. Foi o que fez há alguns anos a NBA, ao expulsar o bilionário Donald Sterling, dono do Los Angeles Clippers, após áudios racistas dele terem sido vazados. Sterling foi obrigado a vender o time e desde então não pode mais ir a jogos. A atitude foi uma verdadeira aula de como se comportar contra o racismo, um problema que o futebol não tem sabido como resolver.

O esporte precisa adotar as causas, mas, para isso, tem de ir muito além de um vídeo bonito em data comemorativa.

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