Análise: Ética deve pautar atuação no digital

O descaso com que a Clear tratou a provocação feita a Neymar em suas redes sociais beira o inacreditável. Ontem, quando nos deparamos com a postagem da marca em seu Facebook, levamos cerca de meia hora para concluirmos que, de fato, não era um perfil falso que havia feito a brincadeira.

O meio do esporte é completamente permissivo para a brincadeira. Gostamos de provocar, tirar sarro, fazer graça com a desgraça alheia. Mas, em hipótese alguma, esse comportamento pode se estender para os profissionais que atuam com o esporte.

O mais absurdo da brincadeira da Clear com Neymar não é tanto a marca se apropriar de um debate que ganhou o mundo. Mas é fazer isso usando a imagem de Cristiano Ronaldo para a ação.

Neymar e CR7 na capa do PES 2013 /© Reprodução

É completamente inconcebível imaginar que CR7 tenha se prestado ao ridículo de querer provocar Neymar. Não existe, publicamente, qualquer rusga entre ambos, que já foram, juntos, estrelas da capa do videogame PES no começo da carreira do brasileiro.

Além disso, se Neymar não foi bem na Copa do Mundo, Cristiano até foi eliminado numa fase anterior com Portugal, o que inviabilizaria alguma provocação direta do craque português ao brasileiro.

Pior ainda é, conhecendo o histórico de CR7, imaginar que ele tenha dado qualquer permissão para usar sua imagem numa ação do gênero. Imagine se fosse Mbappé o garoto-propaganda da Clear? Qual seria o clima dentro do vestiário do PSG após uma ação como essa ter ido para o ar? Será que a Clear não imagina isso?

Foi, no final das contas, uma péssima ideia, executada de forma inconveniente e sem anuência do principal personagem da ação. Uma completa falta de propósito.

Mas o caso precisa servir para que as pessoas sejam minimamente mais racionais ao utilizarem suas redes sociais e, mais ainda, das empresas. A maior revolução provocada pelo digital foi a possibilidade de dar voz às minorias. Qualquer um pode se manifestar que terá a chance de ser percebido. Mas isso trouxe junto outro problema.

Não podemos confundir liberdade de expressão com liberdade de agressão.

Uma marca não pode denegrir a imagem de outra sem ser minimamente responsável por aquilo que publica. Curiosamente, existe essa preocupação quando uma empresa pensa em atuar na publicidade tradicional, mas não quando está no digital.

É preciso, de uma vez por todas, entender que o meio digital também precisa de uma atuação ética. Por mais que seja legal brincar com o outro no esporte.

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