Análise: F1 escancara como ego move o esporte

O que mais move o esporte no mundo a não ser o ego inflado de políticos e dirigentes? A disputa entre Jair Bolsonaro e João Doria Jr. pelo direito de Rio de Janeiro ou São Paulo receberem uma etapa da Fórmula 1 nos próximos anos escancara como a vaidade interfere diretamente nos negócios esportivos e como isso, no longo prazo, transforma um investimento num péssimo negócio.

A Liberty Media, gestora da Fórmula 1, está rindo à toa. Apoiou-se em dois egos infladíssimos e duas figuras populistas para criar uma disputa interna e, no final das contas, conseguir para si o melhor negócio possível. O Brasil? Bem, nós teremos de nos contentar em olhar estudos de viabilidade econômica infladíssimos que dizem que o impacto econômico de receber uma etapa da F1 no Brasil é altíssimo.

Foi com essa estratégia que os Jogos Olímpicos cresceram nas últimas três décadas. O sucesso de revitalização urbana de Barcelona 1992 foi usado como pretexto para que governantes fossem convencidos de que o legado olímpico nas cidades-sedes era tamanho que valia a pena injetar bilhões de dólares em infraestrutura para um evento de apenas 15 dias de duração.

Jogos Olímpicos demandaram investimento recorde para um evento esportivo no Brasil / (Foto: Erich Beting)

Foi preciso a Grécia quebrar, a China, a Rússia e o Brasil investirem bilhões em projetos de legado esportivo questionável e, claro, os países desenvolvidos começarem a se recusar a receber Olimpíadas para que o COI entendesse que o discurso de legado não cola mais como antigamente.

Aqui em terras brasilis, porém, nossos políticos continuam a achar que o esporte vale qualquer investimento. Desde que, obviamente, ele gere ótimos frutos para suas pretensões nas urnas. Foi assim que, nunca antes na história, o Brasil abrigou, num intervalo de dois anos, os dois maiores eventos esportivos do mundo.

Agora, o duelo de egos é para ver quem pode abrigar a Fórmula 1. Um evento que dura apenas um final de semana, no máximo cinco dias entre chegada e saída do “circo da F1”. E que mesmo assim demanda um investimento milionário na manutenção de autódromos. Que, por sua vez, possuem pouquíssimo uso no dia a dia pela total falta de investimento em categorias de base do automobilismo.

O ego inflado dos políticos faz com que não se pense antes de agir. Gastamos dezenas de milhões de dólares em projetos grandiosos, de pequena duração e que não contribuem para a formação de uma cultura esportiva no país. A política interfere e muito no esporte. E, no final das contas, gera o pior negócio possível para o país…

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