Análise: Final distante tira brilho da Libertadores

O futebol sul-americano não tem como competir financeiramente com o europeu. Por enquanto, a decisão de uma Libertadores não conta com os maiores astros do mundo. Mas há uma atração única, uma propriedade especial da região: as festas nas arquibancadas. É o estádio que pulsa, os papéis que caem, as luzes que piscam. Um espetáculo que gera uma experiência fantástica.

Até chegar 2018, o ano do que seria a última final em dois jogos, mas que se transformou em teste para a decisão em um local pré-definido. Não precisa ser vidente para saber que o evento em Madrid será um dos mais mornos da história da Libertadores. Além da cidade distante, o ingresso mais barato para as torcidas de Boca Juniors e River Plate está em  80, cerca de R$ 350. Como resultado, nenhuma das cargas de 5 mil tíquetes reservadas aos times foi esgotada, mesmo a poucos dias para o grande duelo entre os rivais.

No fim de semana, após todo o constrangimento com os casos de violência em Buenos Aires, a Conmebol terá que conviver com uma final de cadeiras expostas, salvo um interesse europeu surpreendente pelo futebol sul-americano.

A grande questão é que o jogo único em uma cidade predefinida tem justificativa comercial, mas parece um enorme tiro no pé. Os patrocinadores poderão pensar em um evento diferente, como é feito na Liga dos Campeões, mas o apelo não será o mesmo. Será que há alguma atratividade universal em uma decisão de times medianos? Só haveria se a magia dos torcedores sul-americanos estivesse presente. Sem a violência, obviamente.

A final única é um estorvo para o torcedor. Mesmo em Santiago, em 2019, a passagem será cara. Não haverá opções terrestres. E é difícil imaginar uma grande mobilização local para assistir a uma partida que, novamente, não carrega nenhum grande atrativo técnico. A tendência é de estádios silenciosos nas próximas finais.

Esse não é um dilema exclusivo da Libertadores. Os ingleses discutem a questão há algumas décadas, inclusive com o viés comercial. Há a dúvida: será que com arquibancadas mais populares e festivas não haveria uma compensação em ganhos com as outras propriedades? O futebol na essência pode se tornar algo mais atrativo.

Do outro lado do Atlântico, a discussão é mais complexa. Há dinheiro e a nata do futebol em campo; a fórmula funciona, como pode ser visto todos os anos na Liga dos Campeões. Mas são forças que não existem no mercado sul-americano.

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