Há uma crítica rasa, mas recorrente, para os preços dos ingressos dos eventos esportivos no Brasil, feita inclusive neste espaço: é melhor cobrar a metade do ingresso e dobrar o público, assim a bilheteria é mantida e o estádio fica cheio, algo comercialmente muito mais interessante para qualquer arena. É raso porque, obviamente, a conta não é tão simples; ela envolve uma balança entre renda, manutenção do estádio, reais ganhos com matchday e precificação precisa do quanto cada tipo de torcedor está disposto a pagar.
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Mas, no fim das contas, o Flamengo tem mostrado que essa suposição simples está longe de ser um absurdo para gestores do esporte brasileiro.
Em 2017, o clube carioca manteve um tíquete médio de R$ 61, o mais alto do Brasil ao lado do Palmeiras. A média de público do time foi de apenas 20,8 mil pessoas. Neste Brasileirão, o clube mudou totalmente de estratégia. O tíquete médio caiu pela metade, a R$ 30. E o público, puxado pela boa campanha da equipe, está acima das 46 mil pessoas, mais do que o dobro da temporada anterior.
Não é o primeiro caso do tipo no futebol brasileiro. Há alguns anos, o São Paulo, em crise, resolveu derrubar os preços dos ingressos. No fim, com o aumento do público, o clube viu a renda média subir consideravelmente. Neste Brasileirão, com tíquete na casa dos R$ 30, o time mantém média de quase 40 mil pessoas.
Não são os únicos. Neste ano, times como Corinthians, Grêmio, Botafogo e Atlético Mineiro diminuíram o tíquete médio com mais ou menos força. Tudo isso reforça o Brasileirão de 2018 como o nacional de melhor média de público das últimas três décadas, um feito esperado após a construção das novas arenas, mas que demorou quatro anos para acontecer. O motivo: os ajustes de precificação tardaram.
As novas arenas, por sinal, ajudaram no processo. Dos 10 times com melhores médias de público, apenas o São Paulo usa um estádio antigo. O destaque é o Ceará, que tem ignorado a campanha ruim para encher o Castelão e lucrar com a bilheteria. O ingresso, claro, não é alto, com tíquete médio de R$ 18.
A taxa de ocupação ainda longe dos 100% ainda mostra que há um longo caminho para os clubes. Mas, passado o primeiro momento em que se pensava que uma arena bonita iria ganhar o jogo sozinha, o futebol brasileiro tem se ajustado. E ter mais público nas arenas é fundamental para a evolução do mercado esportivo.