A corrida dos clubes europeus para ter suas próprias plataformas de streaming mostra um entendimento claro de que o patamar atingido por eles no mercado os obriga a trocar o ganho institucional pelo comercial.
De nada adianta mais para um Real Madrid ou um Manchester City oferecer conteúdo de graça para o torcedor. Não é isso que atrairá uma base maior de fãs para o time, mas sim o desempenho dentro de campo aliado a uma boa estratégia de marketing fora dele a partir do crescimento das competições que os times disputam.
O sucesso crescente dos clubes europeus se deve ao desenvolvimento cada vez melhor de competições como LaLiga, Premier League e Champions League. Esses campeonatos se transformaram em objeto de desejo por parte do torcedor. Os clubes que forem protagonistas nessas competições conseguem, assim, atrair consumidores.
Essa mudança de percepção do futebol na Europa será vital para levar o mercado a um novo patamar em todo o mundo. Por aqui, o futebol continua vendo a produção de conteúdo como algo meramente institucional, sem conseguir fazer dinheiro com essa operação. Sim, é muito legal e importante divulgar a marca, mas, a partir do momento em que os times são essencialmente marcas locais, não tem sentido produzir conteúdo tendo como benefício a divulgação institucional.
E aí é que mais uma vez entendemos nosso atraso em relação à Europa. Como o futebol e os clubes brasileiros têm alcance restrito ao mercado nacional, é quase inviável fazer novas receitas com a venda de conteúdo para o torcedor local. Ele já tem o acesso à informação. O que o clube pode entregar de diferente?
Enquanto os departamentos de marketing dos clubes não enxergarem a produção de conteúdo como ponto de partida para a geração de receita, seguiremos olhando o que o mercado faz lá fora com um certo ar de admiração e revolta. Admiração por achar que é mais fácil realizar esse tipo de trabalho por lá. E revolta por saber que estamos perdendo paulatinamente mercado para os clubes europeus.
Não por acaso, seguimos por aqui vendo o conteúdo ser produzido apenas pela mídia. O mais recente caso veio do DAZN, que criou um documentário sobre Atlético-MG e Botafogo, times que se enfrentam pelas oitavas de final da Copa Sul-Americana, transmitida com exclusividade na plataforma.
Tem público para consumir isso?
Claro.
O triste é o clube não saber que esse conteúdo e essa receita precisam ser dele.