No último fim de semana, o brasileiro Taison, do Shakhtar Donetsk, passou por uma terrível situação de racismo durante uma partida na Ucrânia. Era melhor que nada tivesse acontecido, mas pelo menos o caso mostrou com todas as cores como o futebol lida com o preconceito. No Brasil, na Ucrânia e na maioria dos países, o esporte é absolutamente conivente.
Para quem não viu, Taison perdeu a cabeça ao ouvir cantos racistas. Isolou a bola, xingou os torcedores e chorou. Saiu de campo e, após ser convencido por seus colegas a voltar, recebeu o cartão vermelho e foi expulso do jogo. Como punição, o time adversário, o Dínamo de Kiev, recebeu uma multa de 20 mil euros de federação local.
No futebol, é assim: ninguém quer ver cenas de racismo, mas, se elas acontecerem, que sejam resolvidas discretamente. A simbologia da revolta contra os opressores é sempre passível de punição. Cuidar da situação fica a cargo apenas dos dirigentes, curiosamente de maioria branca. No Brasil e em diversos países com futebol.
Na quarta-feira (13), houve mais um claro exemplo do quanto a questão é levada em segundo plano. O presidente do Cruzeiro, Zezé Perrella, lançou uma nota oficial, com três dias de atraso, para repudiar os atos de violência ocorridos no fim de semana, em partida do time contra o Atlético Mineiro. No último parágrafo, ele cita o caso de racismo no estádio, mas, apesar de pedir punição mais dura, o presidente cruzeirense relativiza o ocorrido ao dizer que é um “fenômeno mundial” e que “na Europa parece que está num processo mais acelerado do que no Brasil (sic)”.
Só que, por mais que se tente tapar o sol com a peneira, a situação não deixa de existir. Nesta semana, o Globoesporte.com apresentou uma pesquisa com todos os jogadores negros das Séries A, B e C do Brasileirão. Ou seja, a elite do futebol nacional. E, mesmo nessa situação privilegiada entre os boleiros profissionais, metade dos atletas afirmou que já sofreu algum ato racista dentro do esporte. E, pior: 87,8% dos jogadores que foram vítimas de atos preconceituosos ou que presenciaram algo do tipo não fizeram nenhuma denúncia. O número deixa claro a descrença no sistema e o pouquíssimo incentivo real a mudanças dentro dos clubes e federações no país.
O futebol é reflexo de uma sociedade, mas ele não precisa renunciar seu poder transformador, algo historicamente intrínseco ao esporte. O problema é que está clara a falta de interesse daqueles que mandam. A esperança está na luta dos que ficam.