Pelo menos dessa vez, o discurso de internacionalização de marca que costuma tomar conta dos clubes brasileiros quando confirmam presença na Florida Cup foi colocado em segundo plano pelo Palmeiras. A ideia de explorar o interesse do torcedor em viajar para ver o time jogar é interessante, mas cai num problema recorrente do futebol brasileiro: a insistência em falar com o fanático.
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O Palmeiras acerta ao ver na disputa de um torneio no exterior a oportunidade de promover sua agência de viagens e oferecer ao torcedor com mais recursos um programa inédito de consumo do clube. O problema é que, novamente, o evento é usado para dar mais privilégios ao sócio-torcedor em detrimento do torcedor “comum”.
Desde que o Internacional começou a fazer uma receita considerável com seu programa de sócios em 2006, os clubes enxergaram a chance de garantir uma fonte nova de recursos para seus combalidos caixas a partir dos sócios-torcedores. Mas, sem um plano consistente para diversificar a oferta de produtos para além de venda de ingressos e experiências com o time, esses programas estagnaram já faz alguns anos.
E os clubes, assim, seguem falando só com o fanático, sem enxergar a necessidade de extrapolar esse nicho, conversando com muito mais gente e faturando muito mais com produtos licenciados e outras ideias.
Um clube que tem 15 milhões de torcedores, de acordo com as pesquisas, não pode se contentar em montar um plano de negócios para falar com uma base de, no máximo, 150 mil pessoas. Isso representa apenas 1% de todo o potencial de clientes. Como reflexo, o Palmeiras arrecada hoje cerca de R$ 48 milhões por ano com o programa de associados Avanti. Em compensação, a área de licenciamentos do clube faturou míseros R$ 5 milhões em 2018.
A bolha do fanatismo é a realidade dentro dos clubes brasileiros. Para dirigentes e executivos da bola, o perfil de consumidor que existe é aquele em que, sob quaisquer circunstâncias, haverá interesse em pagar para estar ao lado de sua paixão.
Foi ao sair dessa bolha que os clubes europeus iniciaram um projeto de conquista mundial. Tanto que, para eles, o negócio não é fazer um jogo na Florida Cup, mas ir à International Cup, disputada agora entre julho e agosto, em diversas partes do mundo. Sem projeto exclusivo para associados, com o objetivo direto de levar a marca e produtos de consumo para o maior número de pessoas possível. Se o futebol brasileiro quiser crescer, a bolha do fanático precisa ser estourada de uma vez por todas.