Análise: “Ganhar o mundo” pode custar caro

A LaLiga, organizadora do estrelado Campeonato Espanhol, teve uma ideia curiosa para tornar a disputa cada vez mais internacional: ter um jogo oficial nos Estados Unidos. Os próprios americanos conhecem bem a prática, com partidas da NBA e da NFL fora do país. A estratégia, no entanto, nem sempre é perfeita: tirar o esporte de seus torcedores é uma prática arriscada.

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Na Espanha, a primeira consequência foi vista de forma imediata: os jogadores se revoltaram com a ideia. Unidos pela Associação de Jogadores do país, os atletas das equipes têm ameaçado greve caso precisem jogar nos Estados Unidos. A questão é bem conhecida aqui: calendário apertado demais para uma viagem do tipo. Somam-se a isso os horários pouco convencionais da liga espanhola para agradar mercados distantes da Espanha, especialmente a Ásia. Nem mesmo os times que disputam o campeonato encontraram um consenso sobre o assunto.

A ânsia de tornar a liga mais internacional tem dois motivos claros. O primeiro está nos direitos de televisão, cada vez mais valorizados. A Liga Italiana, por exemplo, conseguiu dobrar a quantia recebida para vender o torneio para televisões de fora da Itália.

O segundo fator está nos patrocínios que os clubes conseguem em mercados de fora. O maior exemplo nesse caso é o Manchester United, que multiplicou seus acordos quando passou a fazer contratos específicos para países e regiões do mundo.

Parece uma fórmula perfeita, mas é necessário pensar em um equilíbrio. Tirar uma partida do próprio campo envolve abrir mão, mesmo que em uma única data, do torcedor que representa o grosso do seu faturamento. É um jogo em que o fã não terá direito à sua cadeira, ao seu camarote. Que o patrocinador não terá sua área corporativa, sua ativação no estádio. E isso pode gerar um incômodo desnecessário.

Na Espanha, os horários incomuns são um bom exemplo do tiro no pé. Pelo mercado chinês, a liga do país já teve partida realizada às 23h, em uma clara demonstração de desprezo pelo torcedor local. No fim, o mercado exterior é valorizado, mas o time tem menos público e menos audiência. E, ao final da temporada, quem paga a maior parte da conta é aquele que mora mais próximo à arena.

Como deixaram claro os jogadores, a decisão da LaLiga foi feita na base da canetada, sem diálogo com atletas e clubes. Não poderia ser feito assim de jeito nenhum. Abrir mão de um evento no esporte tem que ser muito bem pensado.

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