Análise: Gestor esportivo brasileiro parou nos anos 80

Após quase 30 anos da abertura da internet ao consumidor, a revolução causada por ela começa a mostrar uma nova realidade. Não existe mais a figura do intermediário entre as marcas e o cliente. E isso precisa cada vez mais ser entendido e levado à prática pelos gestores esportivos em geral.

A volta da Adidas à organização de uma corrida de rua da marca é um exemplo disso. O lançamento do podcast oficial do NBB é outro. E a criação de um canal próprio no YouTube para apresentar as novas camisas dos times patrocinados da Umbro é mais uma mostra dessa realidade.

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Nos três casos, os produtores de conteúdo são os donos do produto. A Adidas, o NBB e a Umbro decidiram gerar para o consumidor algo que ele queira acompanhar para, depois, comprar um produto que a marca oferece. É um comportamento cada vez mais comum das empresas. Mas que, no esporte brasileiro, ainda tem a Liga Nacional de Basquete (LNB) quase como uma ilha.

Os gestores esportivos ainda não entenderam que a forma de atrair e reter o cliente está, hoje, na produção de conteúdo que seja relevante para ele e adequado para a empresa. O NBB é, há cinco anos, o único campeonato do país a produzir conteúdo diretamente para o seu torcedor. É um investimento considerável feito pela liga para promover o esporte. Mais do que isso, é um trabalho que demora a colher os frutos necessários. Mas é um caminho que, no médio prazo, se mostra muito mais sólido para fincar raízes para o esporte.

O esporte no Brasil se acostumou a não ser ele o produtor do conteúdo. Ele gera o atleta, a competição e pronto. O trabalho de promoção e divulgação fica todo terceirizado para as empresas de mídia. Em um mundo em que a comunicação era restrita a rádio, TV e mídia impressa, essa fórmula não tinha muito como dar errado. Hoje, com a pulverização da distribuição do conteúdo, ou você cria algo relevante para o cliente, ou ele ficará disperso com tanto estímulo ao consumo. O esporte tem, a seu favor, o fato de ser algo que o torcedor procura consumir de forma espontânea. É preciso, porém, ter conteúdo a oferecer para ele. Seja por meio de uma corrida de rua, de um canal próprio no YouTube ou de um podcast semanal para o mais fanático.

O que não dá para entender é que os gestores esportivos, como clientes, já entenderam o poder que possuem para definir o que e quando consumir. Mas, quando são eles os vendedores do seu próprio produto, continuam a não enxergar o óbvio.

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