Análise: Idolatria a Pia pode atenuar peso de Marta

A primeira treinadora estrangeira da seleção feminina de futebol causa um interessante furor entre os torcedores brasileiros. Neste domingo (1º), horas antes de o Brasil enfrentar o Chile pelo Torneio Uber Internacional Feminino de Seleções, a treinadora da seleção desceu das tribunas do Pacaembu para o vestiário. No trajeto, quando foi reconhecida pelos torcedores que acompanhavam a decisão do terceiro lugar, ela teve seu nome gritado e acenou de maneira tímida aos fãs.

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A cena parece que tem tudo para se tornar corriqueira nos jogos da seleção. E pode ser o fator novo que o Brasil precisava para, aos poucos, reduzir o peso de Marta para o futuro do futebol feminino no país. Pia pode se tornar o novo xodó da seleção brasileira e dividir o foco de atenção com as jogadoras, especialmente a maior delas.

Cultuar ídolos é fundamental para o esporte crescer, em qualquer circunstância. Mas ter apenas um ídolo numa modalidade é um enorme risco para o desenvolvimento dela no médio e longo prazos.

A idolatria a Pia, nesse primeiro momento, é fruto da cultura brasileira. Somos programados para acreditar que haverá sempre uma pessoa que surgirá para nos livrar dos nossos próprios problemas. É por isso que o populismo por aqui é tão eficaz. 

No futebol, colocamos esse conceito em prática a todo instante. Seja na figura do treinador, do dirigente ou do atleta. É sempre responsabilidade de uma pessoa apenas a construção de um trabalho. Nunca entendemos que a soma de esforços é que de fato construirá algo produtivo.

Marta estava, atualmente, com todo o peso de carregar o futebol feminino nas costas. Lembra o discurso inflamado após a eliminação do Brasil na Copa do Mundo? Marta sabe que não pode mais carregar o piano. E esse entendimento precisa existir não só com ela, mas entre os fãs da modalidade, a mídia e os patrocinadores.

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A seleção brasileira de futebol feminino não pode ser reduzida a uma jogadora espetacular. Ou a uma treinadora multicampeã por onde passou. Se não houver uma renovação constante de ídolos e pulverização das responsabilidades, o futebol feminino perderá a oportunidade de crescer e se desenvolver mais para frente. 

Já somos, hoje, um dos países com o maior grau de subdesenvolvimento do futebol feminino no mundo. Temos de aproveitar a chance de ter mais uma figura popular no esporte para solidificar seu desenvolvimento dentro e fora de campo. O ídolo é um meio para crescer no esporte, não pode nunca ser o fim de uma ação.

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