Análise: Ídolos preenchem vazio deixado pelos clubes

Marcos e Zico têm, em comum, o fato de terem sido ídolos incontestáveis de duas das maiores torcidas do país e, assim mesmo, terem baixa ou quase nenhuma rejeição em sua relação com outras torcidas. São raros os atletas que conseguiram atingir tal status e, por isso mesmo, parece natural que eles consigam ter sucesso ao lançarem projetos de relacionamento com fãs.

Leia Mais: Ídolos, ex-jogadores apostam em ações com torcedor

Mas o fato é que o êxito de ambos se deve, também, à incapacidade dos clubes, no Brasil, de preservarem a imagem de seus ídolos e conservá-la próxima a si. 

A cultura de entretenimento do Brasil segue, e muito, o modelo americano. Por lá, o atleta é cultuado sempre próximo da equipe que representa. Raros são os atletas que peregrinam por diversos clubes. Ainda mais se ele tem uma história de relação com uma equipe que seja similar ao status divino que cerca Marcos e Zico.

O mercado brasileiro é, em muitos aspectos, similar ao americano. O brasileiro é fã do consumo e não se importa em gastar dinheiro com entretenimento. Nós temos a tendência de copiar diversas ações que os americanos implementam e obtemos ótimos resultados. Mas, no aspecto do marketing das entidades esportivas, parece que insistimos em não copiar aquilo que comprovadamente costuma dar certo.

Qual clube trabalha seu ídolo para além do campo? Qual ação é planejada com um ex-jogador? Com o desenvolvimento dos programas de sócio-torcedor, alguns ex-atletas têm sido chamados para algumas ações pontuais. Mas ainda não temos trabalhado de forma constante a imagem do ídolo. Ainda mais aqueles que transcendem a relação habitual que perdura durante o tempo em que eles estão atuando.

Muitas vezes costumamos culpar o atleta pela inexistência de planos de gestão de suas imagens para o pós-carreira. Mas, quase sempre, o maior empregador que poderia existir, que é o clube, simplesmente ignora a força da imagem do ídolo. 

É extremamente inteligente Marcos e Zico utilizarem o poder de suas imagens para ampliar o faturamento no pós-carreira. Mas é nítido, também, que se houvesse um planejamento maior dos clubes para trabalharem ao lado desses ícones, sem dúvida os ganhos, dos dois lados, poderiam ser muito maiores.

Muitas vezes o problema não é falta de vontade. Falta estrutura aos clubes para poder dar atenção para além daquilo que acontece durante o jogo. O esporte precisa, urgentemente, ver o ídolo como fonte de receita e não só como um craque em campo.

Sair da versão mobile