Análise: Inovação no futebol brasileiro vem de fora ou do acaso

É senso comum achar que o futebol, esporte que atrai mais mídia e patrocinadores no país há quase cem anos, poderia ser bem maior do que é. Com modelos mais racionais de gestão e ideias inovadoras, os clubes estariam em situação financeira melhor do que a atual e nem precisariam de medida provisória para ajudar a pagar suas dívidas fiscais e trabalhistas.

O grande problema é que as grandes ideias, assim como a MP 671, que institui a contrapartida de responsabilidade fiscal para as equipes, sempre vêm de fora para dentro. Nunca são germinadas no interior da administração esportiva, em suas diversas esferas: clubes, federações e CBF.

A inércia parece ser uma característica inerente na gestão do futebol brasileiro. Hoje gastamos muita tinta (nos impressos) e muito espaço (no online) para noticiar as benesses das novas arenas. Na primeira rodada, elas foram responsáveis por 5 dos 6 maiores públicos do Brasileirão, incluindo os 28.781 torcedores que assistiram o empate entre Palmeiras e Atlético-MG no Allianz Parque. Os estádios envelhecidos, por outro lado, tiveram as 4 piores assistências da rodada inicial do torneio.

Pois bem, sem a participação do Estado para financiar a construção ou reforma de Maracanã, Arena Pantanal ou Arena da Baixada, ou a entrada de investidores para erguer a Arena do Grêmio ou o Allianz Parque, não teríamos instalações esportivas modernas, que atraem mais torcida.

Uma das novas formas de financiamento dos clubes é o programa de sócio-torcedor. A iniciativa não é nenhuma novidade. Na Europa, oferecer benesses, descontos em produtos e vantagens na compra de ingresso aos seus associados é coisa corriqueira. No Brasil, o projeto só foi levado adiante quando uma empresa privada, a Ambev, decidiu abraçar a ideia e lançar o Movimento por um Futebol Melhor. Segundo os organizadores, o empreendimento já atraiu cerca de meio milhão de associados e gerou renda de R$ 200 milhões aos clubes participantes.

Finalmente o acaso também pode conspirar a favor do futebol brasileiro. Em março, uma manifestação nas ruas de São Paulo obrigou a federação paulista a remarcar o jogo entre Palmeiras e XV de Piracicaba, pelo Paulistão, para as 11h. O público de mais de 26 mil pessoas no novo horário fez a CBF abraçar o novo horário. Grêmio x Ponte Preta, disputado no último domingo às 11h, foi a quarta maior bilheteria da rodada inicial do Brasileirão.

A badalada Premier League percebeu que programar jogos em diferentes dias e horários renderia arrecadação maior nos contratos de TV, já que o campeonato pode oferecer mais produtos às emissoras interessadas.

Na última negociação, para o triênio de 2016-2017 a 2018-2019 a liga ofereceu jogos às sextas, sábados, domingos, segundas e meio de semana. Com isso, arrecadou um recorde de quase R$ 24 bilhões.

Para o Brasileirão chegar a isso, o caminho é longo. Mas poderia começar por uma administração mais proativa e menos dependente de iniciativas externas ou do acaso para fazer o produto crescer.

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