Análise: Mídia é meio, e não dona da informação

A polêmica vazia da semana que dominou o jornalismo esportivo envolveu o uso de termos técnicos pelos treinadores em suas entrevistas coletivas. O debate acalorado que se seguiu, ganhando ainda mais repercussão, mostra o quanto o esporte no Brasil falha num princípio básico: geração de conteúdo.

O grande salto vivido pelo esporte nos Estados Unidos e, posteriormente, na Europa, foi quando os detentores dos eventos esportivos entenderam que eles deveriam ser também provedores de informação e conteúdo para os veículos de imprensa. Foi assim que as ligas americanas tornaram a estatística uma espécie de carro-chefe das análises esportivas, levando muito mais qualidade à cobertura dos eventos. 

Na última semana, a Bundesliga revelou um estudo do impacto econômico que a liga tem no futebol alemão. Além disso, os alemães mostraram que o caminho para o futuro está no posicionamento da Bundesliga como uma empresa de conteúdo. Nesta terça-feira (26), novamente, a liga mostrou um estudo sobre a geração Z e o quanto o consumo de conteúdo é prioritário para ela. Qual o posicionamento que os alemães terão diante disso? Fazer conteúdo sem esperar a imprensa para isso.

Por aqui, continuamos a entregar para a mídia o papel que tem de ser do esporte. A única exceção é a Liga Nacional de Basquete (LNB), que deveria ser caso de estudo de todas as demais competições esportivas do país. O Novo Basquete Brasil (NBB) é o dono de tudo que se refere ao basquete brasileiro hoje. E ele passa isso para o torcedor e a mídia. Num trabalho de longo prazo, a liga tem se transformado num oásis do esporte nacional.

O que mais impressiona é que a CBF, entidade que fatura mais de R$ 600 milhões no ano, não é capaz de produzir qualquer informativo qualificado sobre o futebol brasileiro. Seja ele da seleção nacional, seja dos campeonatos por ela organizados.

Quando a entidade mais rica do esporte não dá o exemplo, ficamos à mercê dos jornalistas para gerar conteúdo. E, aí, entramos no círculo viciado das duas últimas décadas. Investir em coleta e análise de informação demanda tempo e dinheiro. O que menos existe hoje na mídia em geral são essas duas coisas. O que acontece a partir daí? Temos as polêmicas vazias na cobertura do cotidiano do esporte e, no caso do Brasil, uma overbola de futebol na mídia, mas sem profundidade de análise.

O esporte no Brasil mereceria melhor tratamento por parte de quem gera todo esse conteúdo. A mídia é apenas o meio para se propagar as informações.

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