Análise: Mudança de hábito é desafio do streaming

Uma aposta segura: a Liga dos Campeões terá uma audiência significantemente menor no Brasil nesta temporada. Ao trocar a Globo pelo Facebook, o torneio abriu mão da maior parte do alcance que mantinha no mercado nacional, o que é um problema enorme para a Uefa e para os clubes do velho continente. A questão é simples: assistir a uma partida de futebol pela internet ainda não faz parte do hábito dos torcedores, por maior que seja o interesse na Liga.

A aposta é uma trapaça, é verdade. Metade da população brasileira está no Facebook, mas o acesso à internet de boa parte desse grupo tem restrições, especialmente para uma transmissão ao vivo. O alcance da Globo é muito maior. Fora, claro, o insuperável poder da emissora em promover os seus produtos. Mas não é só isso.

Em primeiro lugar, há uma barreira tecnológica. Jogo no Facebook é assistido no celular? É fato que conteúdo em dispositivos móveis é cada vez mais acessado, mas isso não significa que seja o suficiente. Primeiro porque o público do esporte não se limita a adolescentes, e o crescimento do streaming tem sido muito mais rápido do que o amadurecimento dos mais jovens.

E segundo porque realmente não é o suficiente. Segundo um levantamento da Nielsen, mais de 90% do conteúdo assistido por adultos nos Estados Unidos está na TV. Entre os jovens adultos até 34 anos, mais de dois terços desse conteúdo vem do streaming, mas ele é assistido na televisão.

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Para assistir a um conteúdo ao vivo do Facebook na televisão, o consumidor tem que ter um aplicativo ou usar algum aparelho extra, como um Chromecast. Para uma parte significativa da população, isso já é algo simples para um Netflix, mas ainda não faz parte da realidade ao assistir um evento esportivo. É hábito.

E o Netflix tem uma enorme vantagem: não é ao vivo, é sob demanda. Segundo a Deloitte, em pesquisa para os EUA, as duas principais razões para o consumidor adotar o streaming são a permissão para assistir ao conteúdo quando ele quer e a ausência de comerciais. O esporte no Facebook simplesmente não se encaixa.

Novamente, é questão de hábito de consumo. E isso é maleável. Parece evidente que, num futuro próximo, o meio de transmissão de conteúdo será majoritariamente por streaming. Mas algumas mudanças não são da noite para o dia. Quando um gestor esportivo pretere a TV pelo streaming, tem que estar plenamente ciente do quanto isso limita o alcance de seu produto atualmente.

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