Análise: O Flamengo vai nos curar do trauma?

O debate começou a esquentar nas redes sociais na noite de sábado (21), se estendeu pelo WhatsApp no domingo (22) pela manhã e tomou enormes proporções no desenrolar de toda a looonga programação dos noticiários esportivos sem notícia do final de ano. Afinal, temos ou não que nos contentar com o desempenho do Flamengo na derrota para o Liverpool na final do Mundial?

A forma como parte significativa da mídia encarou a derrota para se orgulhar gerou certa revolta de torcedores e mesmo jornalistas nas redes (anti)sociais. No meio de tanta gritaria e uma chuva de argumentos para cada lado, faltou o mínimo de bom senso de tentarmos parar de debater o fato em si para analisar todo o contexto.

De que forma podemos achar que é bom perder uma final de Mundial, mas encarando o adversário? Ou será que temos que ganhar a qualquer preço, mesmo que signifique jogar feio, fechado, mas sendo eficiente? Ficamos jogando argumentos de um lado e de outro para justificar o ponto de vista de um ou de outro. E não discutimos o que realmente importa.

O que queremos para o nosso futebol? Com o que vamos nos contentar?

Existe hoje, como existiu há 25 anos no Brasil, um conflito de ideias entre duas gerações. A campanha do tetracampeonato mundial foi marcada por um duelo entre a geração de Pelé, defensora de uma escola brasileira de jogar futebol ofensivo e vencedor, e a geração da seca de Mundiais, que queria ver o Brasil levantar uma taça, sem se importar com o estilo de jogo. Agora, o jejum de Mundiais da seleção (em 2022 já serão 20 anos do penta) foi reforçado por um trauma bem maior que o Maracanaço: o famigerado 7 a 1. Não temos mais somente a fila de títulos, temos, sim, comprovadamente, um país que ficou para trás em relação à Europa.

Por isso mesmo, enche os olhos de alguns ver o Flamengo tentar se impor e colocar em campo o seu estilo de jogo para não conseguir ganhar do Liverpool. O recado que o Flamengo nos passa é o de que podemos voltar a ser protagonistas da bola. Depois dos 7 a 1, o Flamengo foi o time mais próximo daquilo que afetivamente nos lembramos de ser o futebol brasileiro em campo. Mas a pergunta que fica é outra. Isso é suficiente?

Desde o chocolate alemão no Mineirão, perdemos o rumo. Ainda vivemos sob o trauma de sermos vergonha mundial. Para quem era famoso pelos bons tratos dados à bola, ver o orgulho ser despedaçado assim é doloroso. Dessa forma, o Flamengo serve, sim, como um sopro de esperança de que podemos voltar a jogar bola. E o resultado, algum dia, virá.

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