Esqueça títulos. Neymar já ganhou quase tudo o que poderia ganhar coletivamente (falta a desejada Copa do Mundo da Fifa), assim como LeBron tem um histórico respeitável de resultados. Esqueça a beleza física, ainda que LeBron pareça acertar muito mais com sua barba que Neymar com seu cabelo (cuidado de LeBron que, inclusive, fará de uma barbearia cenário de um programa seu na HBO).
Esqueça a fala assertiva e representativa de LeBron, em detrimento às entrevistas cada vez menos atraentes de Neymar. Não é sobre como respeitar quem te assiste ou lê, embora também aqui James demonstre ser senhor de suas palavras. Falamos aqui do quanto LeBron se permitiu aprender com sua história e como isso impacta diretamente no cuidado com sua imagem e reputação como atleta (e cidadão). E de quanto Neymar ainda pode aprender com o King.
Evidentemente que há uma complexidade maior, mas podemos falar em três passos essenciais nessa caminhada. O primeiro é reconhecer quando algo não vai bem com sua reputação. Cuidar da reputação é a consciência de se saber avaliado a todo momento e tentar alcançar positivamente essas percepções alheias. LeBron James, quando saiu de Cleveland pela primeira vez rumo à Miami, viu sua imagem de ídolo ser questionada. Ao invés de reconstruí-la negando seus movimentos bruscos passados, tratou de ajustar paulatina e constantemente sua conduta dentro e fora das quadras. Neymar parece negar haver um problema com sua carreira em um momento em que é criticado além do aceitável.
O segundo é que, diante da maciça exposição, um atleta midiático de altíssimo nível, como é o caso de ambos, passa a ser observado além do desempenho técnico. E justamente por isso, como cirurgicamente trouxe Magic Paula em sua coluna de estreia na semana passada aqui na Máquina, esses mesmos atletas podem e devem usar suas imagens para trazer importantes discussões para a sociedade. Não falamos aqui de atuações político-partidárias, mas de questões elementares que demandam grandes debates e impactos, como o combate ao racismo, pedofilia, sexismo e outros tantos. O novo grande astro do Lakers, apenas nos últimos dias, inaugurou uma escola-modelo em sua cidade natal e anunciou ser um dos responsáveis por um documentário que contará justamente a relação histórica dos astros da NBA com a comunidade em que vivem. Neymar tem seu Instituto, mas, publicamente, o quanto disso está emaranhado com sua reputação?
Por fim, o reconhecimento do perfil da própria relevância. Enquanto James foi o primeiro a falar com a imprensa e fãs quando sua equipe perdeu (novamente) a final da última temporada da NBA para o Warriors, Neymar se calou diante da eliminação da Copa. Não é falar, mas liderar pelo exemplo. Dentro e fora das quatro linhas.
Esta coluna estreia hoje aqui na Máquina do Esporte. Será um prazer debater com os atentos leitores sobre assuntos que envolvam Gestão de Imagem, Reputação e Crises no Esporte.
* Vinícius Lordello é consultor e especialista em gestão de imagem, reputação e crises no esporte